No âmbito da Consulta Pública sobre a Segunda Circular que a Câmara de Lisboa está a promover, muito se tem falado sobre a importância das árvores que se pretendem plantar. Francisco Ferreia, ex-Presidente da Quercus, pôs o dedo na ferida ao referir que as árvores “não tem um papel relevante quer na melhoria da qualidade do ar quer no ruído“.
Acontece que há uns meses um amigo me enviara um artigo muito interessante do Gizmodo, na sequência deste artigo sobre árvores e temperatura. O artigo aborda várias dimensões na interacção entre as árvores e a poluição, em ambiente citadino.
Um dos primeiros tem a ver com a perceção, a componente “psicológica”, como referiu Francisco Ferreira. Neste artigo da Scientific Reports, efectuado no Canadá, a existência de 10 árvores adicionais num quarteirão equivalia a um aumento de ordenado significativo ou a um sentir-se sete anos mais novo! Os investigadores avançaram com a hipótese de que tal perceção resultaria de as árvores reduzirem a poluição do ar.
O problema, de acordo com o autor do artigo do Gizmodo, é que determinados obstáculos numa cidade podem contribuir para que a poluição não seja transportada na direcção “correcta”. O principal problema pode resultar do facto de as árvores evitarem a dispersão da poluição, concentrando-a nomeadamente sob a copa, impactando significativamente nos níveis de poluição a nível local. Um exemplo marcante é o aumento da poluição que se verificou em 2015 na Avenida da Liberdade, uma artéria caracterizada por um conjunto abundante de árvores…
O autor chama a atenção para outra dimensão muito importante! O pior das emissões nada tem a ver com o dióxido de carbono, que é a molécula que as árvores adoram, quando fazem a fotossíntese. O problema reside sobretudo nos óxidos de Azoto (NOx) e as partículas. Neste domínio, o impacto das árvores não é claro.
O problema é que a existência de árvores ao longo de uma via rodoviária, nomeadamente como é o caso da Segunda Circular, contribui para o aumento da concentração de poluição, ao invés de melhorar a qualidade do ar, pelo menos ao nível local. Os autores do estudo explicam que a existência de árvores reduz a ventilação desses locais, que contribuem para a diluição da poluição emitida pelo trânsito!
O problema das árvores na Segunda Circular, da forma que a Câmara propõe, pode realmente ser muito grande. Estudos sugerem que tal pode contribuir para um aumento das temperaturas especialmente no Verão e por alturas de vagas de calor. O estudo anterior chama ainda a atenção para a redução da velocidade média do vento em 30% no Verão em Lisboa, abaixo dos 100 m de altura, fruto da ” forte expansão urbana para Norte da segunda circular:
Sendo o vento na cidade claramente proveniente de Norte, ocorre-se-me que a plantação de árvores ao longo da Segunda Circular vai criar uma barreira adicional e significativa ao vento norte. Não só a poluição vai aumentar na Segunda Circular, como vão aumentar as temperaturas no Verão em Lisboa, aumentar o efeito ilha de calor, e a cidade passar a viver mais miseravelmente!
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