Ontem, ao regressar da região centro para Lisboa, optei pela habitual variante a Coimbra, que tenho feito nos últimos meses. Acontece que poucos quilómetros depois de entrar na A1, me deparei com um placard da Brisa a avisar para incêndio a 11 Km. Más notícias, porque a coluna de fumo era muito grande, e na direcção onde visualmente tinha ideia que a A1 passava. Rapidamente constatamos mais fogos a este, nomeadamente na serra de Sicó.
Para quem como eu já passou por lá algumas centenas de vezes, umas contas rápidas determinaram que a estação de serviço de Pombal era anterior à eventual zona de fogo. Numa condução defensiva, quando ía a passar a estação de serviço, tive que abrandar e mesmo parar. Com a indicação da Brigada de Trânsito (BT), tivemos todos que entrar na estação de serviço pela saída…
Lá dentro, a preocupação rápida foi colocar o carro num local seguro. Longe da floresta que circunda a estação de serviço; longe dos depósitos de gás; num local onde a saída também fosse rápida, caso fosse necessária, ou quando a situação estivesse resolvida. Felizmente, a estação de serviço parece estar preparada, com toda a vegetação rasteira cortada.
Nos momentos seguintes, largas centenas de automóveis começaram a encher a estação de serviço. Não só os que chegavam vindos de norte, mas também os que retiravam de junto do fogo. Uma confusão! Depois de uma breve incursão pela estação de serviço, para utilização dos WCs antes da invasão esperada, a preocupação seguinte foi perceber o enquadramento. Como a estação de serviço está rodeada de floresta, caso o fogo lá chegasse, era preciso ter alguma clarividência para nos protegermos.
Uma rápida pesquisa da direcção de vento foi possível pelas bandeiras da Brisa. Vento de oeste. Que mais tarde havia de ser de nortada. Com o fogo a sul, e a direcção do fumo a puxar para este, era fácil confirmar que o fogo não chegaria à estação de serviço. Obviamente, a menos que mudasse a direcção do vento… Mais uns segundos, e percebo pelo Google Maps, que há uma estrada que permite sair da estação de serviço. Olhando para o terreno, não parece solução, pois está junto à floresta…
Estou junto de elementos da BT a tentar perceber o que vai acontecer. Alguém decide que a BT deve evacuar a estação de serviço. Não pela estrada de serviço. Todos em contra-mão até Condeixa! Noto ansiedade e mesmo pânico nos condutores, bem como na BT. Muitos querem, e depois arrancam a grande velocidade em direcção a norte, na faixa da auto-estrada que é para sul. Percebo que é alguém que segue as indicações by-the-book, em vez de perceber o que se passa no terreno…
Faço contas rápidas: onde tenho o carro; onde está a esposa; o que vai acontecer. Recordo que entrei em Condeixa, e que se lá voltar, vou ter sérios problemas. Vejo os elementos da BT a justificarem o regresso a Condeixa, com a alternativa posterior pela EN1. Não compreendo como nem sequer sugerem a A13, a terceira auto-estrada Lisboa-Porto, e que entronca justamente em Condeixa. Toda a gente pergunta pela A8, mas a BT sugere a EN1. Rapidamente estabeleço contacto com um elemento da BT, a quem aponto a solução A13. E a quem aponto que a EN1 não tardará cortada, dada a proximidade da A1 e direcção do vento…
Decido ficar. Alguns minutos depois percebo que foi uma boa solução. EN1 cortada devido ao fogo. Caos completo em Condeixa. Não seria de admirar: centenas de carros a aproximar-se de sul, mais os restantes que aí param vindos de norte. Caos nas comunicações rádio da BT. Abre-se as portagens de Condeixa ou não? Decisão da Brisa. Não. Bastante depois, a indicação é que terão aberto as portagens. Depois, já estarão fechadas outra vez. Nem quero imaginar a confusão numas portagens muito pequenas!
Na conversa com o elemento da BT que terá primeiro chegado ao local do fogo, percebo a dimensão do fogo que grassa! A coluna de fumo não enganava também. Já assisti a uns quantos de perto, e é de fugir! Percebe-se que fez o que tinha a fazer! Trocam-se muitas impressões, e fica a certeza da dificuldade de comunicação entre entidades distintas. Entretanto, mas muito depois, passa um Kamov e muito depois, dois aviões. O fumo diminui significativamente, e até acaba por desparecer…
Tudo permaneceu calmo entre as poucas dezenas de carros que resolveram esperar, e não voltar para trás. Mas uma senhora passou-se com o elemento da BT! Como era possível que a BT não deixasse passar os carros que estavam na estação de serviço? Fiquei aparvalhado… Quando expliquei à senhora que havia rescaldos de fogo, e que a auto-estrada só poderia ser aberta quando houvesse condições de segurança, resolveu voltar a sua raiva contra mim!
Como era expectável, algum tempo depois, a auto-estrada lá voltou a ser reaberta. Esteve fechada pouco mais de duas horas. Quando finalmente passamos pelo local do fogo, percebi que a senhora enraivecida deve ter engolido em seco. As condições no terreno eram bastante más, com muita pouca visibilidade, e muito, muito fumo…
Em suma, todo este episódio fez-me tirar algumas conclusões. A falta de coordenação entre as distintas instituições é clara. Muitas pessoas entram rapidamente em pânico. A resposta dos meios aéreos é muito tardia. A resposta da Brisa, a acreditar nas referências ouvidas nos rádios dos elementos da BT no terreno, é inacreditável. O importante, importante, é mesmo permanecer calmo e pensar pela própria cabeça… Ainda que se perca tempo, que não se perde…
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