Já em diferentes ocasiões demos conta da diminuição do consumo de electricidade em Portugal, e da recente retoma. Depois de muitas campanhas de promoção da poupança de electricidade, parece-me natural que o consumo de electricidade até tenha baixado. Pelo menos nós temos feito a nossa parte…
No outro dia descobri que havia um Plano de Investimentos definido para a RNT (Rede Nacional de Transporte). Curioso para perceber um pouco melhor para onde vão os custos que pagamos na factura da electricidade, concentrei-me no documento principal, o PDIRT (Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede de Transporte de Electricidade 2012-2017 (2022)). E os custos não são pequenos, pois o documento refere investimentos de 1.6 mil milhões de euros num prazo de cinco anos…
É um documento muito extenso, e para efeitos deste artigo, parei logo no primeiro gráfico do documento, na página 8. Dá-nos os cenários de evolução da procura de energia eléctrica em Portugal, até 2022. O documento é de Julho de 2011, portanto em plena crise. Fiquei curioso para saber se as previsões desse gráfico, e que parecem condicionar o resto do documento, estariam a bater certo com a realidade. Não pude obviamente deixar de pensar neste artigo.
Descobrir os verdadeiros dados de consumo dos últimos anos foi um pequeno pesadelo. Encontrei dados significativamente diferentes em vários sites. Acabei por descobri-los também na própria REN, nesta página, selecionando o mês de Dezembro e anotando o consumo acumulado para cada ano.
Depois, foi só sobrepor no gráfico original os dados reais de consumo dos anos anteriores, e dos já consumados desde então. O resultado é o gráfico abaixo, que fala por si:
Curiosamente, esta questão começa a ser abertamente referenciada:
http://economico.sapo.pt/noticias/rede-electrica-das-novas-barragens-custa-150-milhoes_189927.html
Interessante também o facto de estar em consulta pública um novo Plano de Desenvolvimento:
http://www.erse.pt/pt/consultaspublicas/consultas/Paginas/46.aspx
Tema complexo esse dos consumos. O Consumo obviamente caiu, não só por causa da crise, mas também devido a a um ajustamento dos preços, por exemplo o aumento do IVA a que a troika obrigou. E ainda bem que caiu.
Muito estranho num blogue sobre poupança é o autor, A.Sousa, não referir as razões do alto custo da energia eléctrica em Portugal. A energia é fortemente subsidiada, num mercado completamente distorcido e surreal devido a esses mesmos subsídios, por causa de algumas renováveis. A electricidade tem sido vendida a um preço abaixo do custo real, acumulando os consumidores uma dívida estratósférica que já ascende a mais de 4 mil milhões de euros, que teremos obviamente que pagar nos próximos anos.
Vários governos de diferentes partidos embalaram nesta loucura, mas durante o governo Sócrates levou-se tudo a um extremo inimaginável. Esconderam-se os custos da loucura no défice tarifário (dívida escondida debaixo do tapete), maquilhou-se o custo no IVA baixo para dizer que a energia estava com preços na média europeia.
Para quem não entende o que refiro, digo que a maioria dos países financia o seu Estado com a energia, tal como acontece por cá na gasolina ou gasóleo por ex., mas em Portugal na electricidade foi o Estado a financiar as empresas, daí que a troika no memorando tenha imposto de imediato o aumento do IVA.
Na prática o que tem acontecido ao logo dos últimos anos tem sido os consumidores a gastar mais energia a um custo artificialmente baixo mas tendo que pagar a factura depois. Se os consumidores fossem logo confrontados com o custo real, seriam muito mais conscientes e poupados no consumo. Ou seja, menos facturação e lucros para as empresas do sector.
Sou leitor deste blogue há uns anos, blogue que muito aprecio, só resolvi agora responder porque o autor incrivelmente partilhou no twitter este artigo, aparentemente de forma orgulhosa, com um dos muitos responsáveis desta desgraça, o Carlos Zorrinho, que teve a pasta de energia numa altura em que se cometeram os maiores disparates nesta área.
Para o autor, acima da poupança, parece estar a militância no PS.
Espero que o autor seja minimamente inteligente para perceber que estas politicas catastróficas na energia de subsidiação de grandes grupos custam muito mais aos portugueses realmente pobres que a austeridade das troikas…Para pessoas em pobreza ou no limiar da pobreza é uma atrocidade terrível receberem facturas de electricidade em casa em que 60% já são subsídios e taxas, e que nem sabem que há ainda uma dívida de mais de 4 mil milhões para pagar.
Miguel,
Obrigado pelo acompanhamento, e esperamos continuar a publicar artigos que sejam interessantes no futuro.
Eu, como quase todos os Portugueses, queixamo-nos do elevado preço da electricidade. Qualquer que seja o custo, a queixa existirá! Nós fomos um bocado mais longe, e procuramos perceber porque é assim. Temos referido as razões por detrás disso, à medida que as vamos descobrindo. Mas, como o sector da electricidade não é a nossa especialidade, tem sido feito com bastante esforço. E disso temos dado conta, também no domínio das renováveis que refere, como pode ver por exemplo nos seguintes artigos:
http://www.pouparmelhor.com/noticias/energia-solar/
http://www.pouparmelhor.com/noticias/subsidio-as-renovaveis-sao-como-heroina/
http://www.pouparmelhor.com/noticias/o-contributo-das-eolicas/
Mas, temos abordado outras vertentes, e nas últimas semanas temos-nos focado também por exemplo nos contadores inteligentes. Isso e vários outros aspectos estão concentrados na etiqueta sobre electricidade:
http://www.pouparmelhor.com/tag/electricidade/
Mas outros aspectos não os temos ainda abordado, por ainda não os termos estudado minimamente. Tal é o caso do déficit tarifário, do qual tenho visto várias referências. Do que tenho visto, parece ser efectivamente uma coisa muito má…
Finalmente, não é uma questão política, até porque se fosse, o debate já teria sido iniciado. Fica-me a sensação de que ninguém quer falar disto, em todo o espectro político! Quanto ao tweet, e como não fui eu que o enviei, a única coisa que lhe vou comentar é que era preciso porventura enviar mais. Não está em causa se é no Poupar Melhor, ou noutro sítio qualquer; o importante é os decisores serem confrontados, pelo menos, com a realidade vs. as previsões anteriores. Só assim estaremos em condições de rectificar a trajectória futura…