A deflação é uma situação em que a evolução do índice dos preços no consumidor é negativa, isto é, os preços baixam, ou seja o inverso da inflação. A deflação é supostamente uma coisa muito má, como se pode depreender de muitos artigos de economistas, como este de Paul Krugman.
Na verdade, quem não gostaria de ver baixar o preço dos combustíveis ou da electricidade? Seria muito bom para nós consumidores, embora o mesmo não se possa dizer da GALP ou da EDP. Para mim, o problema destes economistas é que olham pouco para os consumidores…
Toda a minha experiência profissional tem sido vivida num sector em que a deflação é a regra. Todos sabemos que o mesmo computador, que hoje está à venda por X, amanhã poderá ser vendido por um preço menor. O mesmo acontece com televisões, telemóveis e quase todo o tipo de tecnologia. Não só sabemos que o preço será menor, como o novo produto que o substitui será melhor! E não se pode dizer propriamente que seja um sector em crise, e não é certamente isso que impede as pessoas de comprar cada vez mais tecnologia!
Há outras vantagens significativas da deflação para quem poupa. As poupanças que se acumulam valem cada vez mais num cenário de deflação, ao contrário de um cenário de inflação, por exemplo! Por isso, não temos que recear a deflação!
Mas este é um tema em que ainda não me considero muito esclarecido… O que pensam os leitores sobre o tema?
Na minha opinião, a deflação não pode ser tida como uma simples redução de preços. Ou melhor, na prática até o é, o problema é não ser selectiva (referiu o sector da tecnologia). Se a baixa de preços em aparelhos electrónicos é resultado da evolução tecnológica na produção (menos pessoas/mais mal pagas e mais máquinas a trabalhar, e cada vez melhor. Claro que não iam ser as marcas a reduzir as margens…),a baixa de preços de legumes, leite, pão, pequenas obras, mobiliário (nacional), etc reflectem-se quase instantaneamente na redução de ordenados ou mesmo despedimentos.
Ora na prática a deflação e inflação são dois caminhos, e aparentemente tanto um como o outro, parecem equilibradamente sustentáveis (num ganha-se menos mas as coisas são mais baratas, no outro paga-se mais pelas coisas, mas aos poucos também se vai recebendo mais), no entanto um tende para o infinito, e o outro para o zero…
Eu prefiro o que tende para o infinito…
Tiago,
Gostei muito, especialmente na análise de tendência final! Tender para zero ou para infinito são matematicamente muito diferentes, e subir 1% ou descer 1% é uma coisa nessa perspectiva bastante diferente… Basta perceber que se num ano a inflação subir 1% e depois houver uma deflação de 1%, ou vice-versa, nunca voltamos exactamente ao mesmo sítio…
Aproveito para referir que só depois fui ler (na diagonal…) o artigo que indicou da Forbes.
Fiquei especialmente preocupado (ainda não sei se com a minha percepção da realidade, se com a de um dos economistas citados) quando é referido, traduzindo livremente, que em deflação as pessoas tendem a poupar mais (visto o dinheiro ser mais valioso), e em inflação tendem a gastar mais (visto passar-se o efeito contrário). De facto o valor do dinheiro, em ambos os cenários, apresenta as tendências referidas (em termos de valor), no entanto para além de não me parecer verdade o que é dito, acho até que a análise é precisamente ao contrário:
Aproveito para referir que só depois fui ler (na diagonal…) o artigo que indicou da Forbes.
Fiquei especialmente preocupado (ainda não sei se com a minha percepção da realidade, se com a de um dos economistas citados, Doug Casey) quando é referido, traduzindo livremente, que em deflação as pessoas tendem a poupar mais (visto o dinheiro ser mais valioso), e em inflação tendem a gastar mais (visto passar-se o efeito contrário). De facto o valor do dinheiro, em ambos os cenários, apresenta as tendências referidas (em termos de valor), no entanto para além de não me parecer verdade o que é dito, acho até que a análise é precisamente ao contrário:
-por algum motivo em concreto, no nosso caso, “crise”, as pessoas tendem a poupar o pouco que têm e não gastar, logo os preços tendem a descer para incentivar o consumo, levando à deflação
– noutros casos, devido a baixas taxas de juro ou outro factor que leve a um aumento de disponibilidade de dinheiro, as pessoas tendem a ser menos poupadas, gastando mais, favorecendo o aumento de preços, resultando em inflação.
Portanto na minha opinião o nexo causal seria o inverso do apresentado, isto é, é o acto de poupar que pode levar à deflação, assim como o de gastar que pode levar à inflação.
PS: claro que se Pouparmos Melhor, seguiremos um caminho equilibrado, que não tem que potenciar nenhum dos desfechos!
Do artigo da Forbes, há outra parte que me chamou a atenção: o horror que os políticos têm da deflação! Como um dos autores citados refere, será que é “because it destroys the economic basis of the social engineers, spin doctors, and brain washers”?
Já pensaram nas consequências de não se ‘gastar’ dinheiro, isto é, cada vez mais pessoas guardarem-no pois ‘amanhã’ vai valer mais?
É a estagnação económica. Se não houver procura, não há consumo, o comércio vende menos e as fábricas baixam a produção. Acham que os postos de trabalho e salários vão aumentar nestas condições?
Deflação prolongada causa nada mais que uma espiral de pobreza e que atinge mais aqueles que menos poupanças têm.
PS: Já agora, deflação =/= desinflação. O ideal é termos sempre inflação, mas baixa, à volta dos 2% ano.
João,
A ideia de que não se vai gastar dinheiro em deflação é, a meu ver, um dos papões economicistas. E é justamente a grande dúvida que expresso no artigo: no sector tecnológico, claramente deflacionista, as pessoas deixaram de comprar?
Quanto aos salários, eles aumentam por várias razões, nomeadamente para compensar o aumento da inflação. Se não existir inflação, essa pressão deixa de existir.
Quanto à razão entre deflação e poupanças, nesse aspecto parece não haver dúvidas, tal como refiro no artigo. E algo me diz que essa é uma das grandes razões pelas quais os economistas e políticos estão verdeiramente preocupados, porque vivemos numa Sociedade claramente endividada.
Bom dia,
na nossa economia espera-se que existam consumidores para comprar produtos (quantos mais melhor). Se estivermos num cenário de deflação os consumidores tendem a adiar as compras, o que pode fazer entrar em colapso a estrutura que produz e comercializa os bens (menos clientes os mesmos custos fixos). Nos mercados como o tecnológico, eu não diria que há deflação; existe sim um desvalorização do bem porque apareceu outro melhor e consequentemente menos procura do antigo e portanto uma desvalorização: exemplos as televisões antigas não sofreram deflação por consequência dos seus componentes / mão de obra serem mais baratos. Sofreram uma desvalorização porque as pessoas apesar continuarem a comprar TVs querem LCDs. Já nos imóveis, parece-me que existe um fenómeno de deflação porque se está na expectativa de que continuem a baixar.