Ontem, depois de muitos meses de espera, deram-me o papel! Disseram-me que agora tinha que iniciar a ronda seguinte. Para isso, tinha que pegar no papel e levá-lo a vários sitios. No primeiro sítio, teria que levar cópia do papel, e o papel (original), bem como mais papéis copiados de outros papéis originais.
Assim fiz. Na primeira paragem, tirei a senha e fui copiar os papéis. Para ganhar tempo. Quando voltei, começou a primeira espera interminável do dia. Quando fui finalmente atendido, a funcionária não foi de modos, depois de lhe explicar ao que vinha: e o papel, o papel mais importante? Expliquei-lhe que na Câmara tinham-me dito que esses eram os papéis a trazer. Tinha trazido muitos outros papéis também, mas faltava o papel deles! E o estúpido era eu, até porque o podia ter impresso na Internet.
Mas havia uma solução! Com outra senha, podia comprar o papel ao lado, pela módica quantia de quase 3 euros! Tirei a senha, e ia nos 80 e poucos. Era o cento e tal… Esperei uns minutos, mas depois comecei a perceber que as senhas não andavam. E às horas que eram, deveria estar ali entre uma hora e uma hora e meia. Como estava quase na altura de almoçar, e depois de fazer umas contas de cabeça, deu para perceber que tinha vantagem em passar ainda pela empresa, para resolver as questões mais prementes, e ir almoçar como combinara. E deu para imprimir o papel, aliás, as duas folhas…
Voltei com o papel, aliás os papéis, e fui entregar os papéis. À segunda, lá consegui entregar os papéis, e passar à fase seguinte da ronda de papéis.
Quando cheguei à ronda seguinte, mais uma senha, mais uma espera, para me dizerem que o papel que vinha da ronda anterior estava mal preenchido! Não havia volta a dar-lhe: voltar com os papéis ao início da ronda. Mais uma senha e mais uma hora de espera, tal como dezenas de outras pessoas. Para corrigirem o papel, um novo papel aliás. Vale que tinha impresso dois papéis anteriormente…
Agora que já tinha o papel como deve ser, toca a tirar mais uma senha na segunda ronda. E esperar, esperar! Sabia que ia ser atendido pela mesma funcionária, dedicada ao serviço. Estava na senha 7 e eu era o 9. Fui controlando a passagem de 7 para o 8, enquanto fazia multitasking, mas nada acontecia. Até que comecei a perceber que me estavam a passar à frente! Até o senhor “doutor” que acabara de entrar se chegou à frente, e sem qualquer senha, se pôs a tratar dos seus papéis. No meio deste filme surreal, os serviços fecharam a porta, mas até uma adolescente furiosa a bater à porta, com o olhar do pai a ajudar, conseguiu ser atendida à minha frente!!!
Enfim, o papel, qual papel, continua claramente vivo na nossa sociedade, a dar cabo da nossa paciência, qual gato de sete vidas:
Bom dia,
Já solicitei o livro de Reclamações nas Finanças de Paços D’Arcos para reclamar de uma “Senhora Doutora” que passou a minha frente. Tive imensa dificuldade em conseguir o Livro, tive que falar com 4 funcionários que tentaram me dissuadir inclusive me dizendo que não ia adiantar nada. Fui a reclamação de número 17 numa Repartição com tantos anos de existência.
Recebi resposta da minha reclamação passados vários meses a dizer que estavam apenas a cumprir a Lei – solicitadores e advogados tem prioridade.
Eu creio que é claro que o “Em Serviço” devia ser melhor especificado. Não deveria ser todos estes profissionais, todos os dias e a qualquer hora. Todos os cidadãos quando se deslocam a Repartições Públicas quase sempre estão em horário de trabalho ou pior usando o seu horário de almoço ou descanso – previsto em Lei e os referidos profissionais tem como parte de sua profissão frequentar as ditas repartições para serviços para os quais são pagos. Nada mais justo que cumpram as normas da ordem de chegada.