Mais estatísticas de azar

Na semana anterior falamos sobre algumas estatísticas regurgitadas da lotaria do Reino Unido. Foi delas que me lembrei imediatamente quando vi esta semana este artigo do Visual Capitalist, a referenciar como a lotaria é uma taxa regressiva sobre os mais pobres…

Esta é uma ideia recorrente que eu tenho, e que obviamente não se aplica unicamente às lotarias. Por cá é a raspadinha e o euromilhões que mais contribuem para enganar os mais pobres, os incautos e outros…

Infelizmente, por cá não há estudos destes, que eu saiba, mesmo que requentados. Mas olhando para o artigo do MetroCosm, onde foram publicados os dados originais, dá para perceber que o vício do jogo é realmente gigantesco. Nos EUA, cada família gasta em média 630 dólares, só na lotaria, enquanto o Governo gasta cerca de um bilião de dólares por ano a encorajar o jogo.

Para além de muita outra informação, está disponível um infográfico que explica o que acontece a um dólar jogado na lotaria. Por cá, não será muito diferente:

Paraonde vai um dólar na lotaria de Nova Iorque

Paraonde vai um dólar na lotaria de Nova Iorque

Consumo de electricidade do forno

Uma das vantagens do novo contador de electricidade EnergyOT, é que permite verificar o detalhe de consumo de equipamentos onde não consigo chegar com outros equipamentos de medida que tenho. Um desses exemplos é o forno eléctrico, que tem uma ligação directa ao quadro eléctrico.

No exemplo abaixo, podemos ver o consumo de electricidade durante um longo cozinhado. A potência atingida pelo forno foi de cerca de 2.5 kW, considerando que existe um consumo ligeiro, para os restantes equipamentos da casa. A meio do gráfico observa-se uma subida, que não sei se pode ser atribuída ao forno, ou a outro equipamento, até porque a experiência não foi directamente controlada.

Outro dos aspectos marcantes tem a ver com a evolução do consumo. Nos primeiros dez minutos, o consumo de electricidade foi constante, mas depois disso, e até final do cozinhado, verificaram-se sucessivos períodos de aquecimento, intercalados com períodos sem consumo de electricidade. Ou seja, o forno vai ligando/desligando, para manter uma temperatura adequada. Algo que já havíamos visto noutras ocasiões, nomeadamente na máquina de café Nespresso.

Consumo de electricidade num cozinhado

Consumo de electricidade num cozinhado

Carta por pontos

A semana passada recebi a seguinte mensagem da Autoridade Tributária:

Exmo.(a) Senhor(a),
Em colaboração com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária remete-se em anexo um folheto informativo sobre o novo sistema da carta por pontos.
Para qualquer esclarecimento consulte o site www.ansr.pt<http://www.ansr.pt>.
Caso se trate de pessoa coletiva solicita-se que divulgue este email pelos seus colaboradores

Fiquei deveras surpreendido. Ainda não tinha ouvido falar. Não admira: o castigo dos pontos foi aprovado em Conselho de Ministros da passada quinta-feira, e entra já em vigor, no dia 1 de Junho, o dia da criançada. Da leitura dos detalhes da coisa, sobressaem as seguintes notas:

  • No próximo dia 1 de Junho, todos teremos 12 pontos.
  • Os pontos só são subtraídos na data da definitividade da decisão administrativa ou do trânsito em julgado da sentença. Por isso, o importante é evitar que isso aconteça. Reclame por todos os meios!
  • Na  generalidade das contraordenações graves, são retirados dois pontos. Excesso de álcool, excesso de valocidade (>20 Km/h) e ultrapassagens em passadeiras dão direito a um corte de três pontos.
  • Na  generalidade das contraordenações muito graves, são retirados quatro pontos. Muito álcool ou drogas, bem como excesso de velocidade em mais de 40 Km/h, dão direito a uma perda de cinco pontos.
  • No máximo, pode perder seis pontos por dia.
  • Se se portar impecavelmente durante três anos, recebe três pontos. No máximo pode acumular até aos 15 pontos. Não é que seja grande coisa, pois só lá para 2022 é que poderia acumular mais do que esse valor…
  • Se ficar sem pontos, fica sem carta de condução durante pelo menos dois anos.
  • Se ficar com cinco pontos ou menos, tem que ir frequentar uma acção de formação de Segurança Rodoviária.
  • Se ficar com três pontos ou menos, é obrigado a realizar novamente a prova teórica do exame de condução.

Fica percebido que o objectivo é aumentar as receitas. O facto de termos sido alertados pela Autoridade Tributária é prova disso mesmo. As corporações associadas à Segurança Rodaviária, como já não conseguem disfarçar a sua ineficácia, aumentam a burocracia, taxas e taxinhas. Para isso foi criado o Portal de Contraordenações Rodoviárias, que me cheira vai ser onde só iremos mal dispostos…

História dos cartões de crédito

Esta semana soubemos que o consumo com recurso ao crédito de consumo voltou a disparar em Portugal. Foram mais de 500 milhões de euros só no mês de Março, o valor mais elevado desde que há registo deste tipo de dados em Portugal. Segundo os dados do Banco de Portugal, os créditos pessoais sem finalidade específica, para o lar, consolidado e outras finalidades, representam quase metade desse valor. O crédito automóvel representa quase 200 milhões. Infelizmente, não são boas notícias, conforme o demonstram os comentários de vários quadrantes políticos, alguns insuspeitos, como Vital Moreira.

Enfim, isto lembrou-me de um pequeno vídeo que vi neste artigo do VisualCapitalist (via ZeroHedge). Descreve a história ao longo das últimas décadas:

Outro documentário muito giro para entender os cartões de crédito foi emitido pela PBS, chamado “Secret History of the Credit Card“. O documentário continua a desparecer do Youtube, sendo que de momento está disponível abaixo. Se não conseguirem, está disponível no site da PBS:

Estatísticas milionárias regurgitadas

Algumas vezes, até as crianças fazem melhor (retirado daqui)

Algumas vezes, até as crianças fazem melhor (retirado daqui)

Há várias semanas li um artigo onde se reclamava que num estudo de 2015 da Camelot (equivalente aos Jogos Santa Casa no Reino Unido) se tinha chegado à conclusão de que 44% dos milionários ficavam na falência passados 5 anos.

O número era suficientemente interessante para merecer uma investigação melhor! Como era um estudo recente, não deveria ter dificuldades em chegar aos dados originais. Em quase dois meses, voltei a descobrir como a informação mastigada e regurgitada vai alimentando a Internet! E como foi um dos maiores desafios de encontro de dados aqui no Poupar Melhor, comecei a alimentar um “diário” do desafio a que ia dedicando um minuto aqui e outro acolá…

O site do Statistic Brainer tem uma página com várias estatísticas sobre a lotaria. Tem no fundo da página uma referência para uma “verificação estatística” que diz que a investigação é de 2016/01/12 e que a fonte é a própria “Camelot Group PLC”. Outra página que aparece frequentemente associada a esta temática é este artigo de Fevereiro de 2015 do The Richest, onde se percebe que estamos a falar dos mesmos valores… O artigo refere que o estudo da Camelot é do ano anterior, pelo que de 2014.

Passei então a pesquisar os sites da Camelot, e de várias instituições associadas ao jogo em Inglaterra. Pesquisei no Google, limitando os resultados por períodos de tempo cada vez mais antigos. Foi assim que descobri um estudo da Camelot de 2012,  por altura do registo de 3000 milionários na lotaria inglesa. Uma leitura atenta do documento revelou que não havia qualquer referência a milionários falidos.

Depois de mais tempo perdido, comecei a perder a esperança. Até que noutro dia me lembrei de juntar o Arquivo da Internet à equação. Um dos primeiros saltos foi à página do Statistic Brainer, onde descobri que a versão mais antiga disponível, de 2012, refere outro estudo da Camelot, só que agora de 2006! Pouco tempo depois identificava um estudo de 2006, da Universidade de Nottingham, sobre os efeitos da lotaria na felicidade, satisfação e humor dos vencedores. Infelizmente, nenhuma referência a 44%…

Continuei a recuar no tempo, à procura da mensagem mais antiga envolvendo os 44%. Até que seguindo links, fui ter a uma mensagem num arquivo de listas da Internet,  onde se falava nos 44%, mas numa perspectiva diferente. Todavia, a leitura das restantes estatísticas confirmava que se trataria do mesmo estudo!

O estudo em causa, Winning The National Lottery Is Good For You!, foi realizado em 1999, e publicado em Novembro desse ano. O estudo, na verdade realizado pela Ipsos MORI, refere todavia o seguinte:

On average, the winners have so far spent 44% of their winnings

Ou seja, 44% não foram à falência, mas sim, em média, cada um dos entrevistados tinha gasto 44% daquilo que tinha ganho. E, olhando para a ficha técnica do inquérito, foram 249 os entrevistados, entre os que tinham ganho pelo menos 50 000 £, dos quais 111 com um prémio superior a um milhão de libras. E, note-se ainda que não foram 5 anos para cada milionário, mas nos anos de 1994 a 1999, pelo que presume-se que em média os premiados teriam-no sido em média nos últimos dois anos e meio…

Enfim, este parece ser mais um exemplo claro do lixo informativo que permanece em grande parte da Internet. Pode ser que a minha análise esteja errada, e por isso se o leitor encontrar mais alguma peça deste puzzle, digam-no! Mas o que ele revela é que o bom hábito de linkar para a informação original se vai perdendo quase que definitivamente nesta rede global. E, como no jogo do telefone estragado, o que sai no final quase nunca é fiel ao original!

Contando electricidade com o EnergyOT

o EOT no quadro junto ao

o EOT no quadro junto ao EMDIN01

Há vários meses atrás, depois de mudarmos de casa, andei à cata dos equipamentos consumidores em stand-by. Para isso utilizei vários dos medidores de consumo de electricidade que possuo. Um dos que utilizo ligo-o através de uma pinça amperimétrica no quadro eléctrico, tendo assim uma noção do consumo geral da casa.

O equipamento em causa é um OWL USB, mas desde cedo percebi que não era muito rigoroso. Por isso, não tenho falado aqui sobre ele. Dá uma ideia, mas fica-se por aí…

Na casa nova, a paciência perdi-a quando desligando disjuntor após disjuntor, fiquei apenas com o disjuntor da placa de indução que comprara no IKEA. E o OWL continuava a mostrar-me um consumo de cerca de 100 Wh. Nem queria acreditar que um equipamento do IKEA gastasse tanto em stand-by.

A minha incredulidade aumentou quando me coloquei à frente do contador e esperei que o pisca do contador piscasse. Fiquei minutos atrás de minutos, e nada do led piscar. Ou seja, a EDP dizia que o consumo era zero, enquanto o equipamento me dizia que estavam a ser consumidos cerca de 100 Wh…

Algum tempo depois encontrei uma solução alternativa. Na verdade, comecei a utilizá-la no contexto profissional, que tinha um requisito importante: não podia interromper o fornecimento de electricidade, o que era exigido por outras soluções. E onde o consumo de electricidade é particularmente elevado. Tenho estado também a utilizá-la no contexto particular.

A solução que passei a utilizar é o EnergyOT. É uma caixinha pequena que se coloca à frente do pisca do contador, e que transmite essa informação por wifi para um portal, onde podemos consultar o detalhe do consumo de electricidade. Depois de vários meses de testes, em que pus à prova o equipamento, ele portou-se à altura, e tem-me permitido dar um salto quântico na compreensão do consumo de electricidade na nossa casa, bem como na minha empresa. Em próximos artigos vamos detalhar como este novo aparelho me tem permitido dar esse salto.