Problemas do bitcoin

A nossa primeira referência ao bitcoin foi neste podcast em 2013. Enquadramos depois o assunto neste artigo e até referenciamos uma calculadora para ver se compensava na alturar minar. Um ano depois já se alertava para os perigos que o bitcoin acarretava. Mais recentemente, falamos sobre a quantidade de energia para minar esta criptomoeda. Continuo a recolher apontadores que evidenciam a quantidade de problemas associadas ao bitcoin, e outras criptomoedas, que aqui partilho.

O bitcoin nunca será uma moeda (dinheiro), no sentido em que habitualmente o conhecemos, como é o caso do Euro. E isso será assim, porque há pelo menos dois problemas fundamentais com o bitcoin: o seu valor não é estável, e a quantidade de transações que são possíveis é muito baixa.

No tocante ao primeiro problema fundamental, o da variabilidade do seu valor, não há quaisquer dúvidas. Nenhuma moeda se valoriza mais de 1000% num ano, como aconteceu ao bitcoin em 2017. Nem sequer as acções têm tal comportamento, pelo que estamos claramente numa bolha especulativa. O bitcoin tem ainda uma clara associação aos esquemas em pirâmide, em que os que estão presentes no sistema desde o início são os que ganham mais, ou pelo menos detêm uma maior parte da valorização a cada momento, como se verá abaixo. Adicionalmente, este problema fundamental não tem solução, nem no bitcoin, nem nas outras criptomoedas que por aí pululam.

O segundo problema fundamental é a de que existe desde o início do bitcoin uma restrição que poucos conhecem: é que não se consegue nem sequer executar 5 transações por segundo, o que dá um máximo de 432 000 transações por dia. Pode parecer um número grande, mas é muito pequeno. Por comparação, no dia 22 de dezembro de 2017, a SIBS processou em Portugal 10.5 milhões de operações, pelo que seriam necessários mais de 24 sistemas bitcoin só para processar as transações portuguesas… Ainda segundo o mesmo relatório da SIBS, às 12:11:17 desse mesmo dia verificaram-se 263 operações, mais de 50 vezes a capacidade de todo o sistema bitcoin a nível mundial!

Outro problema está relacionado com a posse de bitcoins. O criador desconhecido do Bitcoin estima-se que possui cerca de um milhão de bitcoins. Só o FBI tinha em 2013 mais de 144 000 Bitcoins; se os mantivessem agora, valeriam cerca de 1% do PIB português. Entre alguns dos mais ricos contam-se que estejam também atacantes, alguns dos que apanharam o comboio cedo, mas como se pode ver pela lista, não são identificáveis. Até quem fez a primeira venda com bitcoins (foram duas pizzas) recebeu 10 000 bitcoins, que há cerca de um mês valiam quase 200 milhões de dólares…

Como se sabe, o criador do bitcoin limitou a sua quantidade a um total de 21 milhões de bitcoins. Este mês, a barreira dos 80% foi ultrapassada, o que significa que ainda há, ou apenas há, conforme a perspectiva, 20% de bitcoins para minar. Depois de um crescimento rápido, minar começará a resultar em cada vez menos bitcoins no futuro…

A legalidade da utilização de bitcoins a nível mundial é variada. Conforme se pode ver no mapa abaixo, retirado daqui, numa parte substancial do mundo ocidental, o uso de bitcoins é legal. O mesmo não acontece em muitos países, com destaque para a Rússia, e mais recentemente a China. A situação está todavia a evoluir rapidamente, sendo de esperar que haja mais alguma regulamentação, por forma a impedir que esta especulação digital não acabe com muitos “lesados” do bitcoin…

A loucura e insustentabilidade do bitcoin, e outras criptomoedas, assenta no seu uso de energia e recursos de TI (Tecnologias de Informação). Em termos técnicos, chama-se proof-of-work. A loucura do uso de energia é tão grande que a resumo em alguns pontos:

Os argumentos em sentido contrário são variados, do género de que o minar consome energia hidroeléctrica, que é sustentável. Tal é igualmente uma falácia, pois essa electricidade seria naturalmente utilizada noutros contextos. Mas é sobretudo errada, porque neste momento grande parte do mining ocorre na China, onde a electricidade é essencialmente produzida a partir da queima de carvão.

Em termos tecnológicos, os desafios são igualmente grandes. A dimensão total do blockchain ultrapassou há dias os 150 GB. Para que não tenha que confiar em terceiros, e não ver possivelmente os seus bitcoins desaparecer, terá que tratar essa quantidade de informação.

As falhas envolvendo as entidades que fazem trocas de bitcoin são célebres. Em 2011, a MtGox foi atacada e cerca de 750 000 bitcoins dos clientes foram roubados. Ao valor máximo do bitcoin, as perdas podem ser estimadas em quase 10% do PIB português…

Minar recorrendo a ataques informáticos e outros estratagemas tem vindo a ser cada vez mais comuns. Em Portugal, o recente exemplo do Dinheiro Vivo é porventura o mais conhecido, havendo no entanto outro exemplo mais mediático, referente a outra criptomoeda, no caso do site do Cristiano Ronaldo.

Há mais estratégias para defraudar o sistema, como em tudo, sendo que este exemplo é para outra criptomoeda, mas que nos deve abrir os olhos. E também muito recentemente se ficou a saber que o valor do bitcoin parece ter sido facilmente manipulável. E depois há que não esquecer os forks do bitcoin, com múltiplas acusações de bloqueio de permeio, como se pode ler neste thread.

Finalmente, vale a pena falar nos custos por transação. No dia 22 de dezembro atingiu um valor médio de 55 dólares americanos. Imaginam-se a pagar qualquer coisa e a ter que arrotar cerca de 50 euros de comissões? Conseguem ainda perceber isso no contexto de uma compra de Natal? Para os mais atentos, não é coincidência que esta seja a mesma data da referida acima no caso da SIBS…

Assim sendo, é possível prever o futuro. Há quem garanta que vai atingir 500 000 dólares em 2020 (e vejam só o que o McAfee promete se não acontecer). Há quem preveja que o futuro seja ZERO. Eu aposto algo mais no limite de zero. No entanto, as criptomoedas vieram para ficar. Quem quiser ler mais sobre elas, recomendo vivamente o documento deste link, o qual, embora datado, é uma excelente referência.

Nova Praça de Espanha

Entre 1993 e 2003 trabalhei nas proximidades da Praça de Espanha. É um local que conheço bem da cidade de Lisboa, sendo que uma das poucas coisas que mudou para aqueles lados foi a retirada dos comerciantes que já tinham sido corridos do Martim Moniz, para dar lugar à especulação imobiliária.

Foi por isso que vi com surpresa a notícia de ontem do Público, sobre que a Praça de Espanha vai meter muita água? Pela notícia percebe-se que a Câmara quer ouvir os cidadãos, mas depois da experiência horrível da Segunda Circular (que abordamos em múltiplos posts), pensei seriamente nem sequer continuar a ler. Mas, prontos, lá pensei: ainda talvez possa dar mais um contributozinho, para que estes políticos não dêem cabo definitivamente desta cidade… A que se somou o recente artigo que elaborei sobre as soluções loucas da Câmara de Lisboa para as cheias na cidade. Confesso que não fosse o título do Público, não teria continuado a ler o artigo…

A quase unanimidade das propostas insiste na importância da Praça de Espanha como reguladora do ciclo da água, e nomeadamente das cheias repentinas, que ocasionalmente afectam a cidade. É uma bofetada de luva branca de quase todos os proponentes no Plano Geral de Drenagem de Lisboa, que era de leitura obrigatória para este concurso.

Se essa obrigatoriedade fosse levada a sério, oito das nove propostas apresentadas neste concurso, deveriam ser chumbadas! E porquê? Porque no Plano Geral de Drenagem de Lisboa, as soluções preconizadas por 8 das nove propostas não são consideradas. Lendo esse Plano em detalhe, vemos que as referências a bacias de retenção, ou soluções semelhantes, aparecem associadas apenas à solução B, visível no ponto 9.1.3, página 163 do PDF, e seguintes.

Acontece que no capítulo 10 do PDF, mais concretamente na página 200 do PDF, se diz claramente o que está a ser implementado: “recomenda-se que se implemente a solução C”. E nessa solução C, e em particular analisando o “Quadro 10.1-Estimativa de custos de investimento para as soluções propostas” da página 196 do PDF pode-se observar que para a solução C (a proposta aprovada) se destinam apenas 494 000€ para as Bacias de Amortecimento, por elas terem sido abandonadas! Tal está também claro no Programa Preliminar, onde não há nenhuma referência a bacias de retenção, excepto na já existente na área da Rua Eduardo Malta.

Neste aspecto associado à gestão de precipitação repentina, os pontos seguintes resumem as notas que observei das propostas (tentem encontrar a partir deste link, consegui na sexta, mas não no fim de semana; todavia os links parecem manter-se):

  • Proposta 1, apresenta bacia de retenção, no centro da Praça, mas de resto é muito fraquinho.
  • Proposta 2, os “skateparks” funcionam igualmente como elementos de recolha de águas pluviais.
  • Proposta 3, criação de uma infraestrutura biológica de bacias de retenção à superfície e, uma infraestrutura subterrânea capaz de absorver a acumlução de água da chuva em períodos de precipitação repentina. Acresce uma “cobertura de um reservatório de escoamento com uma capacidade de aprox. 17.500 m3, que corresponde à área inundável na confluência das avenidas próximas.
  • Proposta 4, um parque “inacabado”, mas com bacia de retenção.
  • Proposta 5, uma sequência de “taças” modeladas no terreno, com cotas de fundo distintas entre si, permitirá atenuar o escoamento da água das chuvas, reduzindo a velocidade e tempo de escoamento, ao mesmo tempo que as superfícies planas criadas por estas taças organizam espaços diversificados, com possibilidade de usos distintos.
  • Proposta 6, inclui “Bacia seca de retenção para infiltração e laminagem de cheias”
  • Proposta 7, inclui Bacias de recolha e Bacias de retenção
  • Proposta 8, refere que “Estas bolsas são simultaneamente zonas permeáveis e de atividades programáticas e funcionam como áreas de contenção, armazenamento e retenção das águas pluviais. Propõe-se um sistema que – através da reutilização e otimização das condutas do subsolo – restabeleça a função drenante da Praça de Espanha e a conecte com os aquíferos existentes.”
  • Proposta 10, refere que “Devido a estas circunstâncias, propõe-se que a modelação do terreno recupere e potencie a linha de talvegue promovendo-se a drenagem superficial e sub-superficial com a construção de um poço drenante a montante, no alargamento junto do Arco de São Bento e que ligará ao “caneiro de Alcântara” a jusante da área de intervenção.”

Do resto das propostas, verifica-se que muito parece já decidido, apesar das muitas cambalhotas do passado recente, como está registado neste fórum. Foi uma corrida a quem punha mais árvores no projecto… Infelizmente, é o trânsito que vai sofrer, numa zona da cidade onde os problemas são crónicos. Por isso, duas soluções simples minimizariam certamente este problema. Envolvem os dois cruzamentos que são criados, bem como a retirada do estacionamento existente, como podem ver na imagem abaixo.

Quanto aos cruzamentos, é garantido que o afunilamento do trânsito se irá agravar, sobretudo no sentido da saída da cidade. No sentido da entrada de tráfego na cidade, a Avenida dos Combatentes continuará a funcionar como “buffer”, mas dada a sua dimensão, será suficiente para acumular condutores furiosos durante a manhã. O problema é na saída da cidade…

O cruzamento junto à Gulbenkian será um verdadeiro pesadelo. Conjugar as várias possibilidades de fluxo de tráfego obrigará a uma gestão praticamente impossível dos semáforos. Dada a importância dada à circulação pedonal, essa gestão deverá demonstrar-se impossível, e será garantida a confusão, e não só em horas de ponta. A solução poderia passar por um túnel no sentido de saída da cidade, na direcção da Avenida António Augusto de Aguiar para a Avenida dos Combatentes. O traçado do Metro dificulta a implementação, mas não o impossibilita.

No cruzamento seguinta na direção de saída, na confluência da Avenida Columbano Bordalo Pinheiro e Avenida Santos Dumont, a situação deverá ser ainda mais complicada. Por um lado, o “buffer” existente entre o cruzamento anterior e este é demasiado curto. A necessidade de acomodar os vários fluxos, alguns dos quais absolutamente residuais (eg. quem vem de norte na Avenida dos Combatentes e que se dirige para a Avenida Santos Dumont), traduzir-se-á em tempos de espera no semáforo muito prolongados.

A solução neste cruzamento é todavia muito simples. Dada a maior elevação da Avenida Santos Dumont e a parte norte da Avenida dos Combatentes, o cruzamento pode ser alteado, permitindo a criação simples de um túnel na direcção de saída da Avenida dos Combatentes, o fluxo primordial na zona. Tal favorece a implementação do túnel, que pode começar à cota inicial do cruzamento da Gulbenkian, passando por baixo deste cruzamento, e subindo depois para vencer o desnível necessário até à zona da linha de comboio. A subida da cota deste cruzamento poderá permitir acomodar parte das terras a escavar, para criar as bacias de retenção na Praça de Espanha. Permite igualmente criar um desnível mais gradual no início da Avenida Santos Dumont, favorecendo também aí o acesso, na vizinhança de duas enormes edificações que nascerão no local.

Este túnel poderia ser bidireccional, mas no meu entender, faz mais sentido primeiro que seja no sentido da saída. A utilização de sentidos reversíveis no túnel, em cada uma das horas de ponta poderia ser uma solução, embora não seja uma tradição, infelizmente, em Portugal. A conjugação dos dois túneis a uma maior profundidade permitiria também a sua utilização como reservatório temporário, à semelhança do túnel SMART, que mencionamos neste artigo.

Relativamente ao estacionamento, todos os lugares de estacionamento à superfície parecem desaparecer, ou pelo menos não são considerados. Numa zona da cidade pensada para escritórios, esta é uma decisão absurda. São feitas algumas referência ao estacionamento obrigatório nos novos edifícios, mas mais nada. Quando se vai mexer desta forma na infraestrutura, seria quase obrigatório considerar um parque de estacionamento de algum significado, que poderia mesmo alimentar a rede de transportes públicos, nomeadamente o metro. Esse parque de estacionamento poderia servir também como equipamento de retenção temporário de águas pluviais, à semelhança de exemplos que começam a aparacer no estrangeiro.

Novo Plano para a Praça de Espanha

Poder ao longo da História

Como os leitores assíduos saberão, gosto muito de infografias. E gosto muito de História. No site VisualCapitalist encontrei a infografia abaixo, que relata quais foram as superpotências ao longo da História. Portugal está lá um bocadinho, mas não com a importância que a grande maioria dos Portugueses espera…O mapa é um original de Rand McNally, e foi feito em 1931, pelo que não está actualizado…

A imagem abaixo não é grande coisa, mas para quem quiser ver o detalhe, podem clicar no link acima, ou então directamente para esta versão de alta resolução.

Superpotências na História

Trabalhar menos?

Por todo o lado somos inundados de suposto conhecimento, que nos vai moldando aqui e acolá na nossa forma de ser. Mas há que separar o trigo do joio, e isso parece uma guerra perdida nos dias de hoje! Para mim, começa a ser penoso ler a maioria da “informação” que me chega, tal é a quantidade de “fake-news” que consigo apanhar… Uma das mais aberrantes dos últimos dias aconteceu com a leitura dum artigo da BBC. O título provocante é qualquer coisa do género: argumentos convincentes para trabalhar muito menos.

De tanta confusão espalhada no artigo, com muito nonsense misturado, há uma em que até se verifica que é o próprio autor que fica confuso:

  • Even on a global level, there is no clear correlation between a country’s productivity and average working hours. With a 38.6-hour work week, for example, the average US employee works 4.6 hours a week longer than a Norwegian. But by GDP, Norway’s workers contribute the equivalent of $78.70 per hour – compared to the US’s $69.60.

A lógica da batata é a de que os Americanos trabalham mais que os Norugueses, mas que em termos do PIB o contributo dos Noruegueses é maior? Ou seja, e para reforçar a suposta revelação do artigo, trabalhando menos que os Americanos, os Noruegueses produzem mais! Esta lógica da batata é muito comum por aí, e particularmente comum quando se fala de produtividade. E o autor obviamente não conhece a máxima de que correlation doesn’t prove causation

O problema do autor deste artigo, e de muita gente que manda bitaites neste domínio, é que não se preocupa minimamente em perceber como é que, neste caso, os Noruegueses conseguem tal milagre? Mas, se olharem com atenção para o gráfico abaixo, rapidamente percebem que cerca de 60% das exportações lá do sítio, em 2009, vinha dos combustíveis fósseis. Assim, também os Portugueses seriam provavelmente produtivos:

Exportações da Noruega em 2009

Acontece que o petróleo e o gás natural estão a acabar no Mar do Norte. E de então para cá, a percentagem tem vindo obviamente a baixar. E o que está a acontecer ao PIB da Noruega, e à produtividade num País onde se trabalha menos? O resultado está no gráfico seguinte, onde se verifica que o rombo é ainda maior que em Portugal (gráfico obtido via este link).

PIB Noruega vs Portugal

É natural que eles estejam por isso alarmados. E as recentes eleições foram um quanto espectaculares, com a esquerda tradicional a prometer um aumento de impostos, a ganhar as eleições, mas a não resistir a uma manutenção de uma espécie de geringonça ao contrário lá do sítio. Enfim, a menos que descubram mais uns poços, e os aproveitem, os maiores produtores de petróleo e gás natural da Europa deixarão de ser um exemplo…

Para onde irá a água das cheias em Lisboa?

No outro dia, no Diário de Notícias, voltei a ver a referência à construção dos dois túneis que a Câmara Municipal de Lisboa quer construir para evitar as cheias pontuais na cidade. Convenhamos que 180 milhões de euros não é coisa pouca, ainda por cima para resolver um problema que nos dizem que será cada vez menos frequente, dada a tendência da Península Ibérica se tornar numa espécie de deserto

Desperdiçar dinheiro é um hobby dos políticos nacionais. Algumas vezes é preciso ouvir as vozes lá de fora para perceber as coisas, como foi o caso da comissária europeia da Política Regional, Corina Cretu, que explicou: “Tendo em conta o facto de o município de Lisboa não ser uma das 22 áreas específicas de risco potencial significativo de inundação identificadas para Portugal continental, não se prevê o financiamento do plano de drenagem de Lisboa ao abrigo do programa do Fundo de Coesão para Portugal para o período de 2014-2020 (PO SEUR)“. Existe no site da Câmara de Lisboa uma página do projecto, sendo ainda recomendável a leitura do Plano Geral de Drenagem de Lisboa. Aí se verifica que até existem muitas outras soluções, mas que aparentemente não merecem a mesma importância dos políticos…

A discussão para mim, no contexto também das recentes notícias sobre a seca, deveria ser a de aproveitar a água das chuvas para sustentar a cidade de Lisboa, em vez de a despejar imediatamente no rio, donde segue imediatamente para o mar! E aí reside o erro profundo deste projecto da Câmara Municipal de Lisboa…

Não faltam soluções simples e económicas para este problema. Já há muitas décadas, Gonçalo Ribeiro Telles dizia que um dos problemas principais de Lisboa era a de haver pouca infiltração de água das chuvas nos solos. Um bom exemplo que deveria motivar Lisboa é o que se faz em Barcelona (brevemente referido no Plano de Drenagem), cidade também inclinada, e com forte concentração de chuvas em poucos dias do ano. O sistema tem algumas desvantagens, sendo o principal o não aproveitamento dessas águas, uma vez que se misturam com águas de esgotos. Ainda assim, é possível o tratamento dessas águas, para que elas não cheguem sem qualquer tratamento ao mar, como vai acontecer com os túneis de Lisboa.

Por falar em Tejo, em que se sente o impacto da poluição em tempos de maior seca, há que referenciar o excelente exemplo de Madrid. Os “Tanques de tormentas” de Madrid, asseguram que a água que chega ao rio Manzanares (e depois ao Tejo) seja menos poluída. Madrid assim assegura o que não se verificará em Lisboa: que a água que vem das chuvas, e arrasta muita porcaria, vai libertar essa porcaria directamente no Tejo.

Os exemplos de Barcelona e Madrid são referentes quase exclusivamente a depósitos enterrados. As bacias de retenção à superfície são uma forma muito simples de conjugar armazenamento de água de uma forma temporária. Em Lisboa há um que é mais significativo, o Parque Oeste do Alto do Lumiar, mas que tem revelado vários problemas de manutenção. É interessante verificar que havia duas propostas de implementação deste tipo de soluções, mas elas foram preteridas em função dos túneis, como se pode ver nos capítulos 9 e 10 do Plano Geral de Drenagem de Lisboa.

As bacias de retenção podem revestir formas muito agradáveis, como se pode ver no vídeo abaixo, sobre a Praça da Água de Roterdão. É apenas a peça de um puzzle maior, no âmbito de um projecto estruturado, chamado waterplan2:

Apesar de Roterdão ser um exemplo mundialmente famoso nesta área, não é difícil encontrar na Internet mais bons exemplos em ambiente urbano:

Mas os exemplos de que gosto mais são o de infraestruturas multi-uso. Neste domínio, um bom resumo nesta área é dado por esta página, onde podemos ver referências às cidades de Washington, Kuala Lampur e novamente Roterdão, onde parques de estacionamento e mesmo túneis rodoviários são utilizados em caso de emergência como bacias de retenção.

Enfim, temo que já não se vá a tempo de tornar a capital mais sustentável. É mais um aspecto que contribuirá certamente para a degradação futura desta cidade…

Subredes numa ligação da NOS

Há muito tempo que tinha previsto separar a rede de casa em várias subredes. A proliferação de equipamentos, e certamente as boas práticas em termos de segurança, sugerem que não se misturem telemóveis, IOTs, computadores, e outros equipamentos. A rede era uma coisa muito controlada por mim, e por isso nada de WiFi para visitas, e coisas do género, o que me merecia algumas críticas…

Este fim de semana meti mãos à obra. Com os conhecimentos que tinha, devia ser uma coisa simples. Munido de um router simpático, comecei a configurar tudo, com várias redes internas separadas. A meio da coisa, resolvi começar a ligar à Internet, para começar a testar. Fui aí que descobri que o router da NOS não suporta este tipo de ideias…

Percorri vários foruns, e a ideia estabelecida é a de que tal não é possível. A única forma é a de utilizar o router da NOS em modo bridge e utilizar outro router para substituir o da NOS. A partir daí, fica limitado apenas às capacidades desse router. Por várias razões, não queria ir por aí, pelo que continuei a insistir, até descobrir uma solução (quase perfeita).

A solução passa por utilizar a funcionalidade de subrede nas “Definições” de “Rede Local” do router da NOS. Não consegui encontrar documentação detalhada desta funcionalidade, mas a verdade é que não procurei quase nada. Parece ser que o router cria uma sub-interface com o IP definido em “Gateway de sub-rede”, com a correspondente “Máscara de Sub-Rede”:

Subredes no router NOS

Tal possibilita que o router passe a saber que existe uma subrede adicional à da rede principal do router NOS. Note-se que o router NOS não suporta o conceito da rota estática (“static route”), pelo que a opção que eu acabei por fazer foi englobar toda a restante rede interna dentro da subrede 192.168.1.0/24, subdividindo-a posteriormente no meu router em várias subredes separadas. Admito, porque não testei, que se possam adicionar subredes adicionais no router NOS.

A configuração anterior não faz com que uma configuração tradicional funcione. Não existindo o conceito de rota estática, o router NOS pensa que os dispositivos da rede 192.168.1.0/24 estão directamente acessíveis. O router NOS não sabe, nem se lhe consegue dizer, qual é o endereço IP do nosso router interno! Por isso, quando tenta contactar com um dispositivo da rede 192.168.1.0/24, tem que enviar um pedido ARP para resolução do correspondente endereço MAC.

E é aqui que esta solução que encontrei deixa de ser óptima. Para que funcione, o nosso router tem que suportar algo chamado “Proxy ARP”: fazer-se passar pelos endereços IP da rede 192.168.1.0/24. Aí, o router NOS pensa que encontrou o endereço MAC do endereço IP com o qual está a tentar comunicar, mandando assim o pacote para o nosso router. Este, depois de receber o pacote, já sabe o que fazer…

Esta é uma solução um pouco rebuscada, e que terá alguns problemas de segurança. Dependerá sobretudo da forma exacta com que o nosso router implemente o “Proxy ARP”, algo que continuarei a investigar de seguida.