OBD-II

A primeira vez que vi esta sigla, pensei logo no Obi-Wan Kenobi, do Guerra das Estrelas. Mas o OBD-II não é ficção científica; é aquela interface que os mecânicos utilizam para falar com os automóveis. Já provavelmente todos reparamos que quando levamos os nossos automóveis a uma oficina, e se ele não for já velhinho, o ligam rapidamente através de uma ficha, semelhante às antigas SCART, a uma qualquer máquina.

Já andava de olho nestas fichas há muito tempo, mas ninguém me conseguia explicar bem como me ligava. Os cabos são quase secretos. O software também, pois quem o domina, não conta. E quem não o domina, não sabe… Ainda andei atrás de uns cabos, mais um software opensource, mas não me queria meter num cabo de trabalhos!

Acontece que me dei conta que também existiam uns equipamentos que dispensavam cabos, e que falavam através de Bluetooth. Com telemóveis! Dão pelo nome ELM327 e é possível encontrá-los um pouco por todo o lado na Internet. Descobri finalmente que conseguia mandar vir um da China por menos de 8€, já com portes incluídos. [penitência]

O problema foi o que se seguiu! Fiz a encomenda a 9 de Janeiro, e disseram-me que seria entregue entre 7 a 15 dias úteis depois. Janeiro passou, parte de Fevereiro passou. Comecei a ficar preocupado, e no início de Março estava convencido que nunca veria o equipamento nem o dinheiro de volta. Mas quase dois meses depois, apareceu:

O meu interface com o OBD-II

O meu interface com o OBD-II

Se estão dispostos a esperar tanto tempo, eu comprei aqui.

Mais ou menos energia eléctrica?

Já em diferentes ocasiões demos conta da diminuição do consumo de electricidade em Portugal, e da recente retoma. Depois de muitas campanhas de promoção da poupança de electricidade, parece-me natural que o consumo de electricidade até tenha baixado. Pelo menos nós temos feito a nossa parte…

No outro dia descobri que havia um Plano de Investimentos definido para a RNT (Rede Nacional de Transporte). Curioso para perceber um pouco melhor para onde vão os custos que pagamos na factura da electricidade, concentrei-me no documento principal, o PDIRT (Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede de Transporte de Electricidade  2012-2017 (2022)). E os custos não são pequenos, pois o documento refere investimentos de 1.6 mil milhões de euros num prazo de cinco anos…

É um documento muito extenso, e para efeitos deste artigo, parei logo no primeiro gráfico do documento, na página 8. Dá-nos os cenários de evolução da procura de energia eléctrica em Portugal, até 2022. O documento é de Julho de 2011, portanto em plena crise. Fiquei curioso para saber se as previsões desse gráfico, e que parecem condicionar o resto do documento, estariam a bater certo com a realidade. Não pude obviamente deixar de pensar neste artigo.

Descobrir os verdadeiros dados de consumo dos últimos anos foi um pequeno pesadelo. Encontrei dados significativamente diferentes em vários sites. Acabei por descobri-los também na própria REN, nesta página, selecionando o mês de Dezembro e anotando o consumo acumulado para cada ano.

Depois, foi só sobrepor no gráfico original os dados reais de consumo dos anos anteriores, e dos já consumados desde então. O resultado é o gráfico abaixo, que fala por si:

Realidades vs. Previsões

Realidades vs. Previsões

Continente perde rasto a talões

Como os leitores saberão, sou um cliente habitual do Continente. Há dois fins de semana, havia comprado uns itens com desconto, e ao pagar recebi um daqueles talões de desconto adicionais que o Continente atribui aquando da compra:

Talão de Desconto

Talão de Desconto

A mensagem do fundo do cartão não é a habitual, mas também não era para mim uma novidade. Mais surpreendente era a mensagem na factura simplificada, algo que nunca havia visto antes:

Mensagem enigmática na factura

Mensagem enigmática na factura

A minha preocupação, na altura, foi certificar-me que os descontos não se haviam perdido, o que confirmei no dia seguinte. E ficaram por aí as minhas preocupações.

Neste fim de semana que passou, fui outra vez às compras. E comprei umas latas de pêssego em calda. Para minha grande surpresa, na caixa o talão não passou:

Talão não passou

Talão não passou

Depois de tentar várias vezes, a simpática senhora da caixa telefonou a alguém, mas o veredicto foi claro: o talão não pertence a este cartão! Perante a alternativa de esclarecer isto no apoio ao cliente, lá me mentalizei na perda de mais tempo. Mas insisti! No apoio ao cliente o veredicto foi o mesmo: o computador diz que o talão não é meu! I’ll be back, garanti-lhes…

O problema do Continente é que eles próprios referem nas facturas os talões que emitem. Quando cheguei a casa, foi só confirmar o óbvio na factura anterior:

Talão emitido

Talão emitido, mas sem rasto…

É só comparar o segundo código desta imagem anterior, com o código da primeira imagem acima. São o mesmo! Tudo o resto obviamente bate certo, nomeadamente o prazo de validade do talão. No próximo fim de semana, lá voltarei ao Apoio a cliente, para lhes provar que o computador deles anda a perder o rasto aos talões que emite…

Fora do sistema

Robin Speronis

Robin Speronis

Uma notícia que vi no mês passado marcou-me bastante, sobretudo pondo-me a pensar o que poderia acontecer em Portugal neste caso. Robin Speronis é uma habitante da Flórida que resolveu desligar-se dos serviços de água e electricidade da sua terra, Cape Coral.

O problema foi o que veio a seguir, e que parece uma história vinda de um país tipo Coreia do Norte! Este artigo conta de forma resumida a sua vida recente. Há cerca de dois anos que Robin vive sem utilizar os serviços de água e electricidade. Segundo ela, prefere não depender do sistema. Mas esse sistema não acha isso.

No final do ano passado, Speronis foi entrevistada por uma televisão. Os funcionários dos serviços não acharam piada à notícia, mas sobretudo ao facto de ela se recusar a pagar serviços que não utilizava. No dia a seguir, a cidade determinou que Robin não podia viver numa casa “inabitável”, sem que tivessem sequer conhecimento da forma como vivia!

A verdade é que Robin possui paineis fotovoltaicos que lhe fornecem a luz eléctrica lá de casa, com recurso a um armazenamento em baterias. E aproveita a água das chuvas. Vive assim de uma forma muito sustentável, na óptica ambientalista!

Pouco depois, um placard determinou que a propriedade era inabitável, e que não se podia ali entrar! Subsequentemente, foi processada por uma lista de ofensas, por não pagar uma série de taxas relativas a serviços que ela não pretendia ou sequer utilizava. O que a cidade não sabia era que Robin estava determinada, e foi para tribunal combater a cidade.

No final de Fevereiro, um magistrado entendeu que a maioria das acusações não tinham fundamento. Só encontrou um problema com a utilização da água das chuvas. Mas a cidade voltou à carga, e como ela tem água da chuva, e utiliza o saneamento, mas não paga, cortou-lhe o acesso ao saneamento!

Robin deu assim mais um passo, ao desligar-se completamente do sistema. Imaginem agora que Robin não está nem na Coreia do Norte, nem nos Estados Unidos. E, se estivesse em Portugal? A criatividade dos leitores consegue imaginar o que lhe aconteceria?

Energia Solar

Inauguração parque Porto Santo

Inauguração parque Porto Santo

À medida que se vai percebendo melhor o negócio da electricidade, percebe-se que estamos como o filósofo grego, e que só sabemos que nada sabemos. Vai-se topando uma coisa aqui, relacionando com uma coisa acolá, e assim vamos sabendo algo mais…

A semana passada, vi este artigo do Câmara Corporativa. Um artigo curioso, que mereceu a leitura da fonte da notícia, no Público. Uma notícia sobre as tricas da política e dos negócios, mas que tem uma vertente pedagógica interessante, explicando os valores da operação…

O parque fotovoltaico de Porto Santo está previsto ter um tempo de vida útil de 25 anos. O investimento privado foi de 11 milhões de euros. O PS diz que o retorno do investimento será feito em 5 anos… No Caniçal, o investimento foi de 20 milhões de euros. Mas, para este há mais informação: a produção significa uma facturação de 4 milhões de euros por ano. Mais uma vez, um retorno do investimento em 5 anos… No Caniçal, a produção anual de energia eléctrica está estimada em 11.000 MWh. Tal significa um valor aproximado de 4M€/11000 = 363 €/MWh, ou seja 0.363 €/kWh.

Se compararmos este valor com o valor que pagamos pela electricidade em casa, ficará surpreendido! O valor pago ao produtor é mais do dobro daquilo que o consumidor paga (0.1528 €/kWh na tarifa simples)! Leia outra vez a frase anterior para ver se interiorizou o conceito… Até eu pensava que estava errado, pelo que passei estes dias a procurar confirmar o valor acima. Surpreendentemente, descobri que o valor está mesmo correcto, conforme se pode ver neste documento recente da ERSE, na página 81, onde se dá um preço de 339.70 €/MWh.

Acontece que, nesta pesquisa descobri que há parques solares a nascer por todo o lado. Só nos últimos meses dei conta destes:

Não admira… A energia solar é de borla, mas com um retorno de investimento em 5 anos, qualquer investimento neste domínio parece uma mina de ouro! E, nós os consumidores de electricidade que paguemos!

TOS, a Taxa de Ocupação de Subsolo

No outro dia, no blog Jugular, deparei-me com um artigo sobre a TOS, a Taxa de Ocupação de Subsolo. Paulo Pinto debruçou-se nesse artigo sobre o facto do IVA incidir sobre essa taxa. Na verdade, a incidência de IVA sobre taxas é muito frequente, sendo que a principal diria mesmo que é sobre os combustíveis.

O que achei interessante no Jugular foi a referência de que é cada autarquia que define esse valor. Como forneciam o link para a informação desses valores, disponibilizada pela GALP, reuni tudo numa folha de cálculo. Os valores na tabela abaixo registam os termos variáveis e fixos, para consumos anuais inferiores a 10000 m3, mas também para valores de consumo anual superior. Calculei os valores para um mês de 30 dias e 200 kWh de consumo mensal. Ordenei por ordem decrescente do TOS mensal, e vejam lá o que se descobre:

Variavel <=10K Fixo <=10K Variavel >10K Fixo >10K TOS (€)
200kWh/mês
Mealhada 0.028421449 0.033084959 0.003508884 18.700043956 6.68
Mafra 0.027735233 0.032286146 0.003424164 18.248544387 6.52
Moita 0.016063106 0.018698807 0.001983135 10.568806043 3.77
Sintra 0.014660874 0.017066492 0.001810017 9.646200594 3.44
Sines 0.009437516 0.010986064 0.001165146 6.20946424 2.22
Palmela 0.008974793 0.010447415 0.001108019 5.905013087 2.11
Lisboa 0.008003781 0.009317075 0.000988139 5.266130329 1.88
Covilhã 0.006221715 0.0072426 0.000768127 4.093610482 1.46
Azambuja 0.005278364 0.00614446 0.000651662 3.472927488 1.24
Évora 0.005004882 0.005826104 0.000617898 3.292988853 1.18
Barreiro 0.004602839 0.005358092 0.000568262 3.028462414 1.08
Oeiras 0.004353042 0.005067308 0.000537422 2.864107332 1.02
Condeixa 0.003743496 0.004357744 0.000462168 2.463052951 0.88
Aveiro 0.003691665 0.004297409 0.000455769 2.428950553 0.87
Ovar 0.003294131 0.003834645 0.00040669 2.167390828 0.77
Almada 0.003209367 0.003735974 0.000396225 2.111620355 0.75
Torres Vedras 0.003060046 0.003562151 0.00037779 2.013373442 0.72
Seixal 0.002882481 0.00335545 0.000355868 1.896543702 0.68
Cascais 0.002100698 0.002445389 0.00025935 1.382165475 0.49
Fundão 0.001956864 0.002277954 0.000241592 1.287528968 0.46
Loures 0.001762 0.002051116 0.000217535 1.159317176 0.41
Odivelas 0.00112818 0.001313296 0.000139284 0.742291882 0.27
Vila Franca de Xira 0.000722713 0.000841299 0.000089225 0.475513043 0.17
Estarreja 0.000225292 0.000262258 0.000027814 0.148231772 0.05
Chaves 0.000209271 0.000243609 0.000025836 0.137690729 0.05
Coimbra 0.000156543 0.000182229 0.000019327 0.102998065 0.04