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Estatísticas milionárias regurgitadas

Algumas vezes, até as crianças fazem melhor (retirado daqui)

Algumas vezes, até as crianças fazem melhor (retirado daqui)

Há várias semanas li um artigo onde se reclamava que num estudo de 2015 da Camelot (equivalente aos Jogos Santa Casa no Reino Unido) se tinha chegado à conclusão de que 44% dos milionários ficavam na falência passados 5 anos.

O número era suficientemente interessante para merecer uma investigação melhor! Como era um estudo recente, não deveria ter dificuldades em chegar aos dados originais. Em quase dois meses, voltei a descobrir como a informação mastigada e regurgitada vai alimentando a Internet! E como foi um dos maiores desafios de encontro de dados aqui no Poupar Melhor, comecei a alimentar um “diário” do desafio a que ia dedicando um minuto aqui e outro acolá…

O site do Statistic Brainer tem uma página com várias estatísticas sobre a lotaria. Tem no fundo da página uma referência para uma “verificação estatística” que diz que a investigação é de 2016/01/12 e que a fonte é a própria “Camelot Group PLC”. Outra página que aparece frequentemente associada a esta temática é este artigo de Fevereiro de 2015 do The Richest, onde se percebe que estamos a falar dos mesmos valores… O artigo refere que o estudo da Camelot é do ano anterior, pelo que de 2014.

Passei então a pesquisar os sites da Camelot, e de várias instituições associadas ao jogo em Inglaterra. Pesquisei no Google, limitando os resultados por períodos de tempo cada vez mais antigos. Foi assim que descobri um estudo da Camelot de 2012,  por altura do registo de 3000 milionários na lotaria inglesa. Uma leitura atenta do documento revelou que não havia qualquer referência a milionários falidos.

Depois de mais tempo perdido, comecei a perder a esperança. Até que noutro dia me lembrei de juntar o Arquivo da Internet à equação. Um dos primeiros saltos foi à página do Statistic Brainer, onde descobri que a versão mais antiga disponível, de 2012, refere outro estudo da Camelot, só que agora de 2006! Pouco tempo depois identificava um estudo de 2006, da Universidade de Nottingham, sobre os efeitos da lotaria na felicidade, satisfação e humor dos vencedores. Infelizmente, nenhuma referência a 44%…

Continuei a recuar no tempo, à procura da mensagem mais antiga envolvendo os 44%. Até que seguindo links, fui ter a uma mensagem num arquivo de listas da Internet,  onde se falava nos 44%, mas numa perspectiva diferente. Todavia, a leitura das restantes estatísticas confirmava que se trataria do mesmo estudo!

O estudo em causa, Winning The National Lottery Is Good For You!, foi realizado em 1999, e publicado em Novembro desse ano. O estudo, na verdade realizado pela Ipsos MORI, refere todavia o seguinte:

On average, the winners have so far spent 44% of their winnings

Ou seja, 44% não foram à falência, mas sim, em média, cada um dos entrevistados tinha gasto 44% daquilo que tinha ganho. E, olhando para a ficha técnica do inquérito, foram 249 os entrevistados, entre os que tinham ganho pelo menos 50 000 £, dos quais 111 com um prémio superior a um milhão de libras. E, note-se ainda que não foram 5 anos para cada milionário, mas nos anos de 1994 a 1999, pelo que presume-se que em média os premiados teriam-no sido em média nos últimos dois anos e meio…

Enfim, este parece ser mais um exemplo claro do lixo informativo que permanece em grande parte da Internet. Pode ser que a minha análise esteja errada, e por isso se o leitor encontrar mais alguma peça deste puzzle, digam-no! Mas o que ele revela é que o bom hábito de linkar para a informação original se vai perdendo quase que definitivamente nesta rede global. E, como no jogo do telefone estragado, o que sai no final quase nunca é fiel ao original!

As agruras do Google

Nos próximos dias vamos ouvir muito falar das novidades do Google. O Google I/O 2016 começa na próxima quarta-feira, e promete muitas novidades…

Infelizmente, fala-se pouco das agruras do Google. Na minha opinião, muito do que o Google faz é assustador, para o bem e para o mal. Alguns avanços são-no porque antecipam em muitos anos as previsões de há muito pouco tempo. Mas muitos retrocessos acontecem, de que pouco se fala. Um dos que mais me marca é a apatia no NEST, que prometia muito, mas que parece ter desparecido. Aliás, a novidade é a necessidade de um novo termo para descrever a evolução nesse domínio: a Internet das Coisas Partidas

Mas, o maior susto para o Google foi mesmo os robots da Boston Dynamics. Há um ano, a Time referenciava que esta era a empresa mais fixe do universo Google. Mas depois do primeiro vídeo abaixo, a Google pôs a companhia à venda! E se verem o segundo, dá igualmente para assustar… O Rise of the Machines é capaz de não ser assim tão ficção científica…

As baterias da Tesla

Nos últimos dias, a página da Internet que mais visitantes nos tem trazido é este artigo do pplware. Em que se referencia a análise económica que fizemos à Powerwall em Portugal. Não consigo perceber exactamente porque estão a chegar tantas visitas, mas não me admirava que muita gente andasse muito surpreendida por aí…

Acontece que a Tesla, para mim, é apenas marketing. Mas, as informações dos últimos dias vem reforçar isso a todos os níveis, e não apenas no que toca à Powerwall, que é o que aqui nos interessa.

Os problemas começaram quando os clientes começaram a receber os primeiros exemplares. Parece que um dos problemas que não se esperavam era a de que fizessem tanto barulho. Um cliente chegou a registar 80 decibeis, o que é significativo, com potenciais problemas quando exposto durante 8 horas.

O artigo também faz uma referência a quanto é que realmente custa uma solução Powerwall. Na Alemanha, o verdadeiro custo de uma Powerwall estará entre os 8500€ e 9000€. Na Áustria, são vendidas a 17900 €. Outra análise detalhada como a nossa, mas na Austrália, demonstra o óbvio: é muita mais cara que a electricidade paga da rede! Se a 3000 € demonstramos que não tinham interesse…

Enfim, é barrete atrás de barrete! Eram para surgir no Verão passado, mas só começaram a aparecer há poucos meses atrás… A leitura da página do Wikipedia revela muitas mais confusões, incluindo o desparecimento da versão de 10 kWh.

Mas, a Tesla não está sozinha. A Nissan também nos quer iludir. A Mercedes não quer ficar atrás! Em qualquer caso, vai ser preciso grandes avanços tecnológicos para que estas soluções façam sentido económico. Até lá, serão soluções de nicho, mas que as grandes empresas tentarão impingir aos incautos…

Porque é que o DRM (Digital Rights Management) nos trará maiores problemas de segurança

BBC_Eliminate_DRM

BBC Eliminate DRM

No Poupar Melhor já alertámos várias vezes para a forma pouco cuidada com que os fabricantes de equipamentos olham para os direitos dos seus utilizadores. Temos casos de envio de informação não autorizada para o fabricante, mas também casos em que o equipamento pode ser utilizado para outros fins.

Neste segundo caso, uma das coisas que pode acontecer é que o equipamento seja utilizado para produzir efeitos negativos num alvo e que uma investigação que siga o rasto à origem do ataque nos venha bater à porta. Colaboram para esta possibilidade equipamentos com fracas capacidades de segurança.

O potencial para estas falhas de segurança podem ter múltiplas origens. Uma das principais origens é a má codificação. As empresas que começaram há pouco tempo a lidar com a construção de software têm a propensão para criar de novo todos aqueles defeitos que há muito já tínhamos deixado de ter.

A Electronic Frontier Foundation (EFF) veio mais uma vez alertar para o perigo de termos legislação que por consequência defende a incúria dos fabricantes. Neste artigo da EFF, um investigador avisou um fabricante do defeito nos seus sistemas. O fabricante ignorou os avisos.

Os detentores de direitos de cópia estão ao nível internacional a tentar forçar uma norma para a internet que lhes permite transmitir vídeos num formato legível apenas através do software de DRM, o “Encrypted Media Extensions” (EME). As extensões necessárias para a visualização deste formato estarão protegidas por leis que impedem a sua remoção, mesmo por razões legais. A extensão desta proteção é tão abrangente que mesmo que o nosso sistema esteja em perigo por causa de um defeito nestas extensões, ninguém nos pode avisar, nem podemos fazer nada.

A entidades internacionais preparam-se para implementar mais uma mudança tecnológica e legal sem criarem as necessárias salvaguardas para nos proteger. A EFF pediu ao W3 (World Wide Web Consortium) que criasse uma política em torno do EME com uma exceção que permitiria os investigadores de segurança informática continuarem o seu trabalho sem serem perseguidos judicialmente pelas falhas que detetassem na implementação do EME, mas até agora nada aconteceu.

Webspam

O conceito webspam é um conceito associado ao lixo que circula na web, muitas vezes invisível, e que visa enganar os motores de pesquisa, nomeadamente o Google. Ocorre naturalmente sob muitos formatos, do qual um exemplo são as cópias de conteúdo que descrevemos neste artigo.

No blog de Google Webmasters, a semana passada foi publicado um relatório sobre como o Google combateu o webspam no ano passado. Alguns dos pontos que retive, e que motivam alguma meditação, são os seguintes:

  • Verificou-se um aumento de 180% na quantidade de sites “hackados”.
  • Aumentou a quantidade de sites com pouca qualidade de conteúdo. Nestes estão incluídos os sites que copiam o conteúdo doutros locais.
  • O Google mandou mais de 4.3 milhões de mensagens aos respectivos webmasters, e verificaram um aumento de 33% no número de sites que procederam a uma correção dos problemas.

Felizmente, quando utilizamos o Google, somos cada vez menos impingidos com páginas sem sentido. Ainda acontece, naturalmente, e também muitas vezes não aparecem as mais importantes. Aqui no Poupar Melhor somos muito a favor deste combate, e por isso também o Google parece gostar de nós… Assim esperamos continuar!

Locais mais perigosos do Mundo???

As Nações Unidas têm publicado nos últimos anos o WorldRiskReport. O documento relativo a 2015 evidencia alguns dos locais mais perigosos do Mundo, e para além do enfoque nos diversos riscos que existem (terramotos, tempestades, etc.), dá uma ênfase especial ao tema da alimentação. Felizmente, pelas razões que creio ficarão claras no final do artigo, o estudo só parece ter sido divulgado em Portugal na TSF.

Este enfoque na alimentação torna infelizmente o relatório muito pouco credível! Na lista de países mais expostos aparece o Vanuatu, um arquipélago do Pacífico, quase nas nossas antípodas. O problema do estudo é que mostra o Vanuatu em preimrio lugar nas tabelas, mas em todas as páginas do relatório é apenas referido três vezes, duas das quais numa caixa de destaque… Como essa própria caixa de destaque refere, nem sequer conseguem descrever os riscos correctamente, como foi o caso do Nepal, em que as Nações Unidas apenas previam uma baixa probabilidade de tremor de terra…

Enfim, dá para perceber da leitura do relatório, elaborado pela Universidade de Estugarda, que muito dos que nele colaboraram provavelmente não fazem ideia dos riscos naturais que os países realmente correm. Portugal é um dos mais “verdinhos” do mapa, mas isso deve ser porque nos últimos anos não houve tremores, inundações, tempestades a sério, e outros fenómenos que qualquer pessoa minimamente atenta à História sabe que existem. O mesmo não acontece infelizmente com os PALOP, que saem bastante mal retratados.

Enfim, o relatório nem sequer dá realmente indicação dos locais realmente mais perigosos do Mundo. Falamos recentemente da Venezuela, onde não há comida nem pão e todos ralham e ninguém tem razão? Como é que um país que é incapaz de produzir os seus próprios alimentos não aparece num relatório que evidencia a vertente específica do risco de falta alimentar, ultrapassa-me completamente. E já não falamos realmente doutros riscos não abordados no relatório, nomeadamente associados ao crime. Dizer que o Qatar é o país com menos risco do Mundo, num relatório virado para as questões da alimentação, e em que esse país, Qatar, não tem praticamente agricultura, só pode ser uma anedota! Por isso, estudos deste género, mesmo que das Nações Unidas, não são para ser levados a sério!