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Planeta dos Humanos

Foi-me recomendado dar uma vista de olhos ao novo filme produzido por Michael Moore. Chama-se “Planeta dos Humanos“, e é visível abaixo no Youtube. Segundo a entrada no Wikipedia, estará apenas disponível durante 30 dias.

Devo dizer que não gostava dos documentários que Michael Moore produziu anteriormente. Mas este é particularmente relevante, pela hipocrisia que evidencia de muita coisa que se passa em termos da Energia Verde.

O filme deve ser de digestão muito difícil para quem “acredita” que a Energia Verde é milagrosa. O documentário desmonta alguns dos argumentos em torno essencialmente da energia proveniente de biomassa, mas também de energia solar e eólica.

Na verdade, em Portugal não sei se a situação será muito diferente. Temos poucas centrais de biomassa, e não sei em que condições funcionarão. Mas, em termos de energia eólica, uma pesquisa rápida revela o que aí vem. E em termos de energia solar, ainda estamos numa fase inicial, pelo que teremos que verificar.

No que me toca, o importante é usar o mínimo de energia em primeiro lugar. É isso que temos tentado transmitir aqui no blog desde o seu início…

Para onde irá a água das cheias em Lisboa?

No outro dia, no Diário de Notícias, voltei a ver a referência à construção dos dois túneis que a Câmara Municipal de Lisboa quer construir para evitar as cheias pontuais na cidade. Convenhamos que 180 milhões de euros não é coisa pouca, ainda por cima para resolver um problema que nos dizem que será cada vez menos frequente, dada a tendência da Península Ibérica se tornar numa espécie de deserto

Desperdiçar dinheiro é um hobby dos políticos nacionais. Algumas vezes é preciso ouvir as vozes lá de fora para perceber as coisas, como foi o caso da comissária europeia da Política Regional, Corina Cretu, que explicou: “Tendo em conta o facto de o município de Lisboa não ser uma das 22 áreas específicas de risco potencial significativo de inundação identificadas para Portugal continental, não se prevê o financiamento do plano de drenagem de Lisboa ao abrigo do programa do Fundo de Coesão para Portugal para o período de 2014-2020 (PO SEUR)“. Existe no site da Câmara de Lisboa uma página do projecto, sendo ainda recomendável a leitura do Plano Geral de Drenagem de Lisboa. Aí se verifica que até existem muitas outras soluções, mas que aparentemente não merecem a mesma importância dos políticos…

A discussão para mim, no contexto também das recentes notícias sobre a seca, deveria ser a de aproveitar a água das chuvas para sustentar a cidade de Lisboa, em vez de a despejar imediatamente no rio, donde segue imediatamente para o mar! E aí reside o erro profundo deste projecto da Câmara Municipal de Lisboa…

Não faltam soluções simples e económicas para este problema. Já há muitas décadas, Gonçalo Ribeiro Telles dizia que um dos problemas principais de Lisboa era a de haver pouca infiltração de água das chuvas nos solos. Um bom exemplo que deveria motivar Lisboa é o que se faz em Barcelona (brevemente referido no Plano de Drenagem), cidade também inclinada, e com forte concentração de chuvas em poucos dias do ano. O sistema tem algumas desvantagens, sendo o principal o não aproveitamento dessas águas, uma vez que se misturam com águas de esgotos. Ainda assim, é possível o tratamento dessas águas, para que elas não cheguem sem qualquer tratamento ao mar, como vai acontecer com os túneis de Lisboa.

Por falar em Tejo, em que se sente o impacto da poluição em tempos de maior seca, há que referenciar o excelente exemplo de Madrid. Os “Tanques de tormentas” de Madrid, asseguram que a água que chega ao rio Manzanares (e depois ao Tejo) seja menos poluída. Madrid assim assegura o que não se verificará em Lisboa: que a água que vem das chuvas, e arrasta muita porcaria, vai libertar essa porcaria directamente no Tejo.

Os exemplos de Barcelona e Madrid são referentes quase exclusivamente a depósitos enterrados. As bacias de retenção à superfície são uma forma muito simples de conjugar armazenamento de água de uma forma temporária. Em Lisboa há um que é mais significativo, o Parque Oeste do Alto do Lumiar, mas que tem revelado vários problemas de manutenção. É interessante verificar que havia duas propostas de implementação deste tipo de soluções, mas elas foram preteridas em função dos túneis, como se pode ver nos capítulos 9 e 10 do Plano Geral de Drenagem de Lisboa.

As bacias de retenção podem revestir formas muito agradáveis, como se pode ver no vídeo abaixo, sobre a Praça da Água de Roterdão. É apenas a peça de um puzzle maior, no âmbito de um projecto estruturado, chamado waterplan2:

Apesar de Roterdão ser um exemplo mundialmente famoso nesta área, não é difícil encontrar na Internet mais bons exemplos em ambiente urbano:

Mas os exemplos de que gosto mais são o de infraestruturas multi-uso. Neste domínio, um bom resumo nesta área é dado por esta página, onde podemos ver referências às cidades de Washington, Kuala Lampur e novamente Roterdão, onde parques de estacionamento e mesmo túneis rodoviários são utilizados em caso de emergência como bacias de retenção.

Enfim, temo que já não se vá a tempo de tornar a capital mais sustentável. É mais um aspecto que contribuirá certamente para a degradação futura desta cidade…

Energia consumida a minar bitcoins

Os bitcoins são um tema a que nos referimos aqui no Poupar Melhor há já uns anos. Num primeiro artigo abordamos uma calculadora de retorno de investimento para Bitcoin, e noutro abordamos os perigos associados à utilização do Bitcoin. Muita coisa mudou desde então…

Ainda em 2013, o site Blockchain calculou que minar Bitcoins a nível mundial consumiria qualquer coisa como quase um GWh de energia por dia, o que dará uma potência de energia na ordem dos 40 MW! Um autor da Bloomberg já então dizia tratar-se de um autêntico desastre amibiental

Há cerca de uma semana, um artigo do IEEE chamou-me a atenção para as evoluções neste domínio. O artigo é muito interessante porque contém um conjunto de ligações e informação muito úteis. Como a imagem seguinte, que relaciona os custos de energia, receitas, e tecnologias usadas na minagem de bitcoins:

Bitcoins, custos, receitas, & tecnologias utilizadas

O artigo revela que a potência utilizada já irá nos 500 MW, cerca de 12 vezes mais que há uns anos atrás, apesar do aumento exponencial de eficiência, conforme é visível na imagem acima. Para se ter uma noção do consumo, representará cerca de 1/8 da energia consumida durante os períodos de vazio de um fim de semana em todo Portugal!

É claro que muita desta minagem ocorre em locais onde o preço da electricidade é baixo, pelo que esqueçam fazê-lo em Portugal… E esqueçam qualquer ideia de fazê-lo com energia solar. A escala da minagem é avassaladora. Vejam este datacenter da China, que sozinho necessitará de uma potência até uns 135 MW de electricidade. A loucura é tão grande que aviões Jumbo são utilizados pelos “mineiros” para transportar os últimos avanços da tecnologia. E embora a notícia seja especificamente para o Ethereum, na verdade as diferenças para com os Bitcoins não será muito diferente… Se lerem tudo em detalhe, ficarão sem qualquer motivação que pudessem ter para minar…

Quanto CO2 de fogos forestais em Portugal/2017 ?

No final de Julho, neste artigo, levantara a questão de quanto CO2 terá sido emitido pelos fogos florestais em Portugal? É uma pergunta digna do Frei João sem Cuidados, mas à qual tentarei dar uma primeira resposta.

Vamos primeiro a alguns pontos:

  1. A fase Charlie terminou este ano com mais de 230 mil hectares de área ardida.
  2. Segundo contas da Agência Portuguesa do Ambiente, os 128 mil hectares de mato e floresta que arderam em Portugal, até 31 de Julho, foram responsáveis pela emissão de 2,9 megatoneladas de dióxido de carbono equivalente.
  3. Segundo contas da Quercus em 2010, 70 mil hectares de floresta e mato ardidos em parte de 2010 representaram a emissão para a atmosfera de um milhão de toneladas de CO2 equivalente, o mesmo que 29 milhões de automóveis a viajarem de Lisboa ao Porto.
  4. De acordo com dados da Pordata, Portugal emitiu em 2014 qualquer coisa como 59.5 megatoneladas de dióxido de carbono.
  5. Segundo dados da Brisa, o Tráfego Médio Diário na A1 é de 27517 automóveis.

Depois destes considerandos, é fácil chegar a mais alguns pontos:

  1. Pelo ponto 1 e ponto 2, os 230 mil hectares de área ardida terão correspondido a (230/128)x2.9 = 5.21 megatoneladas de dióxido de carbono equivalente.
  2. Pelo ponto 6 e ponto 4, as emissões de CO2 dos fogos florestais aproximar-se-ão este ano de 10% do total das emissões do País.
  3. Pelo ponto 3 e ponto 6, o CO2 resultante dos fogos florestais corresponderá a 5.21×29 = 151 milhões de automóveis a viajarem de Lisboa ao Porto.
  4. Pelo ponto 8 e ponto 5, as emissões de CO2 dos fogos florestais deste ano em Portugal correspondem às emissões dos automóveis da A1 durante 151M/(27517×365) = 15 anos

Da próxima vez que ouvir alguém a queixar-se das emissões de CO2, ou das emissões de CO2 dos automóveis, vou tentar lembrar-me quão mais importante não seria estarmos a cuidar da nossa floresta…

História da Floresta Portuguesa

Muito se tem falado nas últimas semanas sobre a floresta portuguesa e os fogos que a afectam. Muita coisa se tem referido, mas falta claramente uma perspectiva histórica. Olhando por exemplo para a página da Floresta Portuguesa no Wikipedia, verifica-se que as referências históricas praticamente não existem!

Infelizmente, a memória hoje em dia é muito curta! Quando pergunto a qualquer pessoa como eram os montes há uma centena, duas centenas de anos, quase ninguém acerta! Há cem anos, a floresta em Portugal era diminuta. Os matos também não eram muitos. Por isso não ardiam os montes…

A história da floresta portuguesa é muito interessante, mas muito deprimente. Um dos documentos resumo mais interessantes é esta “Perspectiva Histórica sobre a Floresta Portuguesa e a sua Defesa contra Incêndios“. Apesar de ter mais de dez anos, dele retirei alguns extractos:

  • Em 1849, José Maria Grande registava o “arboricídio” das herdades vizinhas do Tejo, onde se cortava o azinho e sobro para carvão.
  • Em 1875, a área arborizada equivalia a 7% do território, com cerca de 670.000ha, compostos por 370.000ha de montados, 210.000ha de pinhais, 50.000ha de soutos e carvalhais.
  • de 1888 a 1938 teriam sido arborizados apenas 21082 ha (Mendonça 1961).
  • Em 1965, existiam cerca de 2.969.000 ha arborizados, correspondentes a 33% do território do Continente
  • De facto, é neste período que a área arborizada atinge o seu máximo, com uns expressivos 3.3 milhões ha. que se reconhecia serem em grande parte sub-lotados, de baixo valor económico, expostos a um risco extremo e com crescentes problemas fitossanitários (Inventário Florestal Nacional, 1995).

Há, na verdade, bastantes documentos sobre a floresta portuguesa na Internet, mas de uma forma geral, bastante datados. E difíceis de encontrar! De seguida fica uma lista, com um nome indicativo para cada um, para que cada um possa ter uma posição mais fundamentada na vertente histórica. Se souberem de mais alguns verdadeiramente interessantes e publicamente acessíveis, digam, para juntar à lista:

Mais terra e menos água?

Há uns dias, ao ler notícias no site da BBC, dei-me conta de uma que me chamou claramente a atenção: que há mudanças na forma como a água à superfície da Terra se distribui. Dito desta forma, não me impressiona. As mudanças sempre existiram, e sempre existirão!

Ao ler a motícia, fiquei ainda mais surpreendido com a principal surpresa dos cientistas: que a linha de costa tinha ganho mais superfície de que a perdida, apesar da proclamada subida do nível médio dos mares! A notícia tem mais itens interessantes, mas de um cariz já habitual, de sensacionalismo científico. Mas tinha um link!

O instituto holandês Deltares desenvolveu uma ferramenta que permite observar essas alterações. O Deltares Aqua Monitor mostra os locais de água do planeta transformados em terra, e vice-versa, entre 1985 e 2015. A resolução das imagens, baseada no motor do Google Earth, permitem ver essas alterações com uma resolução de 30 metros.

A ferramenta é deveras notável, e cuscar vários sítios do planeta é inevitável! Serve para apreender o que tem sido a acção do Homem neste aspecto, mas também para validar os dados. Por isso, dediquei também tempo a Portugal (ver mapa abaixo). Aparecem naturalmente as grandes barragens, donde sobressai naturalmente o Alqueva. Mas doutras, nem sinal, como é o caso da barragem do Alto Lindoso. Mas ainda mais interessante, foi seguir a linha de costa, onde a subida do mar deveria estar a “engolir” parte da nossa costa. Uma contabilidade rápida, envolvendo os locais de maior variação, dá origem ao seguinte:

Locais onde terra conquistou mar (a verde no mapa):

  • Barra de Caminha
  • Porto de Viana do Castelo
  • Praia da Pedra Alta – Viana do Castelo
  • Porto de Leixões
  • Foz do Douro
  • Praia da Aguda
  • Praias de Espinho
  • Praia de Esmoriz
  • Praia do Muranzel
  • Praia de São Jacinto
  • Praia da Tocha
  • Praia da Figueira da Foz
  • Praia da Nazaré
  • Marina de Cascais
  • Marina de Oeiras
  • Praia da Trafaria
  • Praias da Caparica (norte)
  • Praia de Troia
  • Porto de Sines
  • Praias de Lagos
  • Praia da Rocha
  • Praia de Albufeira
  • Praias de Vilamoura e Quarteira
  • Ilha da Barreta – Faro
  • Ilha da Culatra (nordeste)
  • Praia da Armona
  • Praia da Barra da Fuseta
  • Praia da Ilha de Tavira
  • Praia do Lacém – Cabanas
  • Praia da Alagoa
  • Praia Verde
  • Praia de Monte Gordo
  • Foz do Guadiana

Locais onde mar conquistou terra (a azul no mapa):

  • Praia de Antas – Foz do Neiva
  • Praia de Rio de Moinhos – Esposende
  • Praia de Ofir
  • Praia de Cortegaça
  • Praia de São Pedro de Maceda
  • Praia das Dunas de Ovar
  • Praia do Furadouro
  • Praia de Torrão do Lameiro
  • Praia do Areão (sul)
  • Praia do Poço da Cruz (sul)
  • Praia de Mira (sul)
  • Praia da Cova Gala (sul)
  • Docas de Peniche
  • Praia da Culatra (sudoeste)
  • Praia da Fuseta
  • Praia de Cacela Velha

A contabilidade é surpreendente! Embora muitos dos locais conquistados ao mar sejam de origem humana, muitos outros não o são. O efeito dos molhes é surpreendente, corroborando aquilo que é também medido no terreno, como se pode ver no exemplo da Figureira da Foz. Outra situação surpreendente para mim foi a da Praia da Rocha, muito mais artificial do que o que eu pensava. Procurei confirmar o que julgava serem outras surpresas na lista, mas todas as que averiguei, confirmam-se. Tudo isto dá muita credibilidade a esta ferramenta, que está publicamente disponível…

Mais e menos água em Portugal (1985-2015)

Mais e menos água em Portugal (1985-2015)