A ideia que todos temos interiorizada é que o consumo de combustível de um automóvel aumenta, com o aumento da velocidade. E com o aumento do consumo de combustível, aumenta naturalmente a poluição. Na proposta da Câmara para a Segunda Circular, é por isso assumido que a redução do limite de velocidade máxima de circulação contribuiria para uma redução dos impactes ambientais.
Por outro lado, é nos dito que para minimizar o consumo, é necessário engrenar a velocidade mais elevada, e conduzir nessa engrenagem sem deixar o carro ir abaixo. Acontece que na maioria dos carros, não se consegue fazer isso com um limite de 60 Km/h. Eu no meu não consigo…
A verdade é que a eficiência de um motor vai melhorando à medida que vamos inicialmente subindo a velocidade. Tal é verdade no arranque inicial, e tal mantém-se até determinada velocidade. Mas, a partir dessa velocidade, a potência necessária para o veículo se mover a uma velocidade superior aumenta mais que a melhoria de eficiência no motor, pelo que o consumo voltará a subir.
O ponto em que se verifica a inflexão de consumos é dependente das várias marcas/modelos, mas também de um conjunto diverso de factores variáveis, conforme temos referido em múltiplos artigos do Poupar Melhor. A melhor compilação que conheço no domínio desta área é a dada pelo documento “Transportation Energy Data Book”, que na sua página 126 tem o seguinte gráfico:
Consumo vs. velocidade, ao longo das últimas décadas (atenção às medidas imperiais)
Os dados deste gráfico evidenciam que actualmente os automóveis estarão próximos do seu melhor consumo quando circularem a quase 100 Km/h. E isto para os automóveis americanos, que sabemos não são tão eficientes como os europeus, que tipicamente utilizamos em Portugal. Esse valor está também de acordo os melhores consumos que consigo no meu automóvel. Notem ainda como as velocidades onde os automóveis têm os seus melhores consumos, tem vindo a subir nas últimas décadas. Tal não é obviamente surpreendente dadas as melhorias em termos de motorizações, mas também de aerodinâmica.
Os valores que a literatura consagra como óptimos, na zona dos 80 Km/h, não são válidos para todos os automóveis. Os mais recentes de uma forma geral ficam acima, mas com a notável excepção dos carros híbridos e eléctricos. Nestes, a velocidade óptima é genericamente bastante inferior, mas também não contam significativamente para o aumento das emissões de gases poluentes.
Assim sendo, o que a proposta da Câmara vai conseguir, ao reduzir a velocidade máxima da Segunda Circular, de 80 Km/h para 60 Km/h, é aumentar a poluição, o contrário obviamente do que é desejável!