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As vantagens competitivas da selecção alemã de futebol

Neste artigo vou referenciar algumas pequenas notas que fui tomando, nos últimos meses, da presença da Alemanha no Mundial do Brasil. Há muito tempo que conheço a forma como os alemães se organizam, e como o planeamento bate quase sempre bastante certo…

Tudo começou quando ouvi falar pela primeira vez do Footbonaut. Nem queria acreditar! Parte dos treinos do Borussia de Dortmund são orquestados por uma máquina, e os jogadores jogam com ela! Quem viu os passes rápidos e certeiros que trocaram as vistas aos Brasileiros, ao ver o seguinte filme, pode imaginar donde vem essa afinação de passe:

Outro factor de sucesso é certamente a aposta nos jovens e nas academias. Em Portugal, quase já não há portugueses a jogar. Na Alemanha, a aposta nos jovens, na formação, já deu resultados muito antes deste Mundial…

Mas onde comecei verdadeiramente a seguir as peripécias da Alemanha no Brasil foi quando ouvi a piada do ferry. Confesso que me surpreendeu ver os Alemães a depender de um ferry:

A Alemanha de ferry no Brasil...

A Alemanha de ferry no Brasil…

Mas tinha que haver alguma razão! Na verdade, os Alemães deram muita importância a várias questões, como veremos mais à frente. Mas, a primeira, foi não encontrar um local que correspondesse aos requisitos. Por isso, construíram de raíz o Campo Bahia. Tudo na sua construção se resumiu a uma estratégia: proporcionar as condições ideais aos seus jogadores!

Campo Bahia

Campo Bahia (in Telegraph)

Segundo um responsável, Oliver Bierhof, tendo em conta as dimensões do Brasil, a Alemanha optou por um local onde as deslocações para as partidas que tinha de realizar causassem o mínimo de incómodo. Se forem ver o mapa do Brasil, vejam as deslocações efectuadas só nos primeiros três jogos, pela equipa alemã e portuguesa:

Deslocações Alemanha vs. Portugal

Deslocações Alemanha vs. Portugal

Ademais, sabiam que quem ganhasse o grupo, teria os potenciais jogos seguintes em: Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. E quem ficasse em segundo, jogaria sucessivamente em Salvador, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Olhando para o mapa, percebe-se a dificuldade que a Alemanha teve com a Argélia, em Porto Alegre…

A questão das condições climatéricas foi outro grande trunfo da Alemanha. Os primeiros jogos foram realizados em locais com clima muito semelhante ao de Santa Cruz Cabrália, a localidade onde se situa o Campo Bahia. E enquanto os Alemães treinavam ao meio dia para simular as condições exactas dos jogos, Portugal passava frio em Campinas. Os dados meteorológicos relativos ao mês de Junho, de Campinas e Porto Seguro, estão representados abaixo:

Temperaturas em Junho em Campinas

Temperaturas em Junho em Campinas

Temperaturas em Junho em Porto Seguro

Temperaturas em Junho em Porto Seguro

Mas onde a Alemanha se excedeu na preparação para o Mundial foi mesmo com a tecnologia. Eles até avisaram o Brasil que estavam preparados, com informação recolhida por 50 estudantes da Universidade de Desporto de Colónia.

Para reunir tanta informação, quem melhor que a SAP AG, uma empresa alemã de referência nas tecnologias? Esta empresa criou especialmente para a selecção alemã uma ferramenta designada “Match Insights”, que junta e analisa quantidades massivas de dados sobre os jogadores. A solução permite nomeadamente a análise de vídeo, com capacidade para registar milhares de parâmetros por segundo. Tais dados permitem depois aos treinadores avaliarem as métricas de desempenho de determinados jogadores, e mesmo interagir com eles através de equipamentos móveis! E quando alguém da Alemanha perguntou como parar Cristiano Ronaldo, a resposta estava lá! O outro grande concorrente, o Messi, esse já andava esgotado desde o início

Como se tudo isto não fosse pouco, a Alemanha utilizou ainda o sistema miCoach da adidas. Tal sistema permitiu controlar completamente os parâmetros dos atletas alemães, nomeadamente velocidade, distância percorrida, aceleração, batimento cardíaco e outros parâmetros vitais dos atletas. O miCoach é assim um sistema de monitorização fisiológico avançado, que inclui um pequeno processador que o atleta transporta durante os treinos.

Como dizemos várias vezes aqui no Poupar Melhor, “you cannot manage what you cannot measure“…

Os resultados do Benfica e a economia

Taxa de crescimento (%) do PIB a preços constantes (base=2006) em Portugal  com valores coloridos por troféus conquistados pelo Benfica

Taxa de crescimento (%) do PIB a preços constantes (base=2006) em Portugal
com valores coloridos por troféus conquistados pelo Benfica

Sem qualquer explicação racional, tenho um carinho pelo futebol do Benfica. Isto contraria toda a racionalidade em que enquadro as minhas decisões, vá-se lá saber porquê… Mas há outras coisas que não podem contrariar a racionalidade sem que eu deixe de me questionar: “Será mesmo assim?”

As lendas do glorioso avolumam-se em torno dos seus desportistas heróis, mas também em torno dos benefícios que a nação benfiquista transborda para a nação portuguesa. Ora a tese que é mais comum ouvir é de que as vitórias do Benfica beneficiam o país e que este cresce de forma relacionada com o clube do meu coração.

Para verificar esta fé, juntei os dados da variação do PIB recolhidos no Pordata à data de 9 de abril de 2014 com a invejável lista de competições ganhas do Sport Lisboa e Benfica de forma a procurar uma relação entre ambas. Os valores encontrados no palmarés futebolístico do Benfica já seriam dignos de nota, mas o nosso desporto é outro.

O Benfica ganhou 84 troféus entre 1910 e 2014:

  • Campeonato de Lisboa (Entre 1906/07 e 1946/47)
  • Campeonato de Portugal (Entre 1921/22 e 1937/38)
  • Campeonato Nacional da I Divisão / I Liga
  • Supertaça “Cândido de Oliveira
  • Taça “Ribeiro dos Reis” (Entre 1961/62 e 1970/71)
  • Taça da Liga – 4 Títulos
  • Taça de Portugal – 24 Títulos
  • Taça dos Campeões Europeus / Liga dos Campeões
  • Taça Ibérica

Em todos os anos entre 1980 e 1985 o Benfica ganhou 2 troféus em simultâneo e entre 2009 e 2012 conquistou sempre a taça da liga.

Sobre os valores de variação do PIB, o A.Sousa já nos explicou como estes podem ser calculados ao gosto do freguês, razão pela qual optei por apresentar o primeiro que encontrasse no Pordata. O resultado do cruzamento entre a existência de vitórias do Benfica e a variação do PIB é que o gráfico ilustra.

Para validar a teoria de que o Benfica daria um bom catalizador do nosso sucesso o que teríamos de encontrar era uma relação constante entre a variação positiva ou negativa do PIB e as vitórias do clube do nosso coração.

O que o gráfico parece mostrar é outra coisa. Pintámos a vermelho, a cor da nossa alma, as variações do PIB dos anos em que o Benfica conquistou 1 ou mais troféus e a cinzento as que o Benfica, para nossa angústia e sofrimento, não conquistou quaisquer troféus.

Embora não seja observável pela análise visual do gráfico, nem no mesmo ano, nem no ano seguinte, uma variação positiva coincidente com as competições ganhas do Benfica, o que vamos encontrar é uma relação entre os maus resultados do Benfica e as variações mais fracas, ou mesmo negativas, do PIB nos anos em que o Benfica não conquistou quaisquer troféus.

A critica a esta observação poderá dizer que não será este o único fator que provoca a variação do PIB. Para esta critica a minha resposta é um lacónico “Sim”, mas o que é que isso interessa agora?