No artigo do início da semana havíamos abordado os reais custos da electricidade em Portugal. Neste artigo vamos juntar os dados que referenciamos neste artigo, relativamente à ERSE, bem como os dados do Eurostat, que o leitor João Santos comentou no mesmo artigo. Juntei igualmente os dados da Pordata. Antes de passarmos ao detalhe dos dados, o resultado é a imagem seguinte, com os dados da ERSE, Eurostat e Pordata sobrepostos na imagem que publicamos no início da semana:
Custos reais do kWh em Portugal, e segundo várias entidades
É fácil de perceber que a série do Eurostat está efectivamente engatada. Já reclamei para os serviços da União Europeia, mas eles limitam-se a fazer copy&paste da metodologia. E antes que surjam dúvidas, a série ten00115 referenciada pelo João Santos é mesmo a série oficial do Eurostat, como podem constatar a partir deste link. Se vermos este link, podemos confirmar que havia uma metodologia até 2007 e outra depois disso. Inicialmente, nem tentei perceber onde estaria o gato, de tal forma é evidente a irrealidade da evolução depois de 2007. Por isso, realmente surpreende que jornais como o Jornal de Negócios dêem evidência a estes dados…
A curva da ERSE é igualmente interessante. Como os valores em si não parecem estar disponíveis em lado algum, tive que calculá-los com base nos gráficos que dispobilizam neste link. O que fiz foi utilizar o valor 0.12 para 2002 e 0.14 para 2008, extrapolando os restantes. Daí poderem existir ligeiras diferenças. A metodologia da ERSE é descrita em vários locais, remetendo actualmente para este documento. No ponto 7.4.2, da página 235 do PDF, pode-se ver a descrição da metodologia, da qual podemos destacar o seguinte parágrafo:
- Os preços médios apresentados foram calculados com base na estrutura de fornecimentos de 2012, de forma a eliminar o efeito de alteração da estrutura de consumos e analisar apenas as variações tarifárias em termos médios. É importante ter em conta que estes preços não constituem os preços médios efetivos em cada ano, pois não é considerada a estrutura dos consumos do respetivo ano em cada nível de tensão.
Confesso que não sei o que é um preço médio daquilo que não é um preço médio efectivo. A única coisa que posso dizer é que a curva está acima da realidade no início do gráfico, mas depois é ultrapassada pela própria realidade. No início, é relativamente concordante com o Eurostat, mas este último obviamente não faz sentido depois de 2007, como já dissemos. Com ou sem impostos também não é um factor associável, até porque estaria sempre de acordo com os restantes gráficos, ou até abaixo (no caso de um valor sem impostos).
Os dados da Pordata parecem ser mais consistentes com a realidade. Até 2011 têm uma correlação superior com os dados da tarifa simples, verificando-se em 2012 uma subida elevada, que parece incorporar a introdução do IVA a 23% no final do ano anterior. Ainda assim, regista valores sempre superiores a quaisquer outras, no início do ano. Foi na troca de impressões com a Pordata (a única das três entidades com a qual foi possível dialogar sobre isto, e que realmente se mostrou interessada na questão) que percebi que a série ten00115 do Eurostat referenciada acima não inclui taxas e impostos após 2007. Na verdade, a série da Pordata é a mesma, como podem confirmar no link da série nrg_pc_204, só que com as taxas todas incluídas, conforme podem confirmar, fazendo variar a opção TAX desse link.
Com a clarividência que esta imagem documenta, só me ocorre que todas estas instituições estejam a decidir com base em dados desligados da realidade. Se eu conhecesse apenas os dados da ERSE, até pensaria que a subida era razoável. Como os que eu conheço melhor são os que pago na factura mensal, fica-me a sensação que a União Europeia, a Entidade Regulador do Sector, bem como pelo menos alguns jornalistas, andam todos a leste da realidade!