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Offshores e outras engenharias financeiras

Muito se fala por aí nos últimos dias sobre offshores. Numa altura em que o dinheiro é um bem escasso, não falta quem tenha ideias de ir sacá-lo onde quer que o haja… Acontece que o termo offshore não tem uma definição clara. Gosto mais do termo paraíso fiscal, embora também aqui a definição tenha que ser utilizada no sentido lato…

É engraçado que aqueles que tanto criticam as offshores em Portugal têm um problema quando têm que abordar, por exemplo, a indignação da Ministra das Finanças sueca. Que não é só sueca, porque é francesa também

Claro que como bom paraíso fiscal que somos, mas só para os reformados, e só para estrangeiros, até fazemos questão de promover esta oferta lá fora! A única excepção para já serão provavelmente os reformados dos Estados Unidos, por causa de uma coisa chamada FATCA… Que não tardará a ser alargada a outros países!

Poderíamos continuar a arranjar mais paraísos fiscais. Em Portugal, há o caso notável da Madeira. Mas, há mais, muitos mais! Por exemplo, paga-se menos IRS em determinados municípios Portugueses. Como podem ver nesta lista, são poucos aqueles onde isso se consegue, mas logo no início da lista aparece Albufeira, que oferece um desconto de 5% no total do IRS pago. Coisa pouca, que não justificará a mudança para lá… E benesses aos mais diversos níveis existem, quer para os cidadãos, quer para as empresas, como até já referimos aqui. Se eu tivesse uma família numerosa e fosse viver para Albufeira, seria uma atitude criticável?

Há também quem se insurja com o anúncio de técnicas para pagar menos impostos. Uma coisa chamada por alguns de engenharia fiscal, mas que não deixa de ser promovido por entidades como a DECO. Mas, se acham que engenharia fiscal é uma coisa complexa, os Suecos encarregaram-se de mostrar à sua Ministra das Finanças como é que se poupa e ganha dinheiro, à custa do próprio Estado. Não admira pois que ande indignada, e descarregue as suas frustações no nosso Ministro das Finanças…

Novo número das Finanças – 217206707

Ainda hoje, quase quatro anos depois, o artigo sobre os problemas associados a contactar com as Finanças é ainda um dos mais vistos no Poupar Melhor. Durante este tempo todo, os contribuintes pagaram principescamente pelas chamadas efetuadas para a AT.

Felizmente, tal acabou desde Dezembro de 2016. As Finanças têm agora um número de contacto, 217206707, que para a grande maioria dos Portugueses terá um custo de contacto muito inferior, e para muitos mesmo, um custo nulo.

A AT disponibilizou dois documentos para quem quiser utilizar este número 217206707. No primeiro documento, sobre o Centro de Atendimento Telefónico, referencia-se nomeadamente todo o conjunto de opções disponíveis. No segundo documento, Comunicação Telefónica Segura, dá-se conta de uma nova funcionalidade, com recurso a um código, que permite acesso a diversas informações via telefone, incluindo:

  • Declarações (atividade, IRS, IMI, etc.)
  • Divergências diversas
  • Execuções fiscais
  • Imóveis
  • Infrações fiscais
  • Notificações electrónicas
  • Reclamações graciosas
  • Veículos

Para obter o acesso ao código de acesso telefónico, deverá aceder ao Portal das Finanças, clicar em Serviços Tributários e obter o Código de Acesso Telefónico, procedendo do seguinte modo:

  • Contacte-nos e-balcão ->Atendimento e-balcão -> Autenticação
  • Aceda a Novos Serviços Por Telefone
  • Clique em Obter Acesso Telefónico
Ainda não experimentei, mas é certamente uma melhoria importante nos serviços prestados pela AT.

Coeficiente localização no IMI

A recente polémica relativamente ao IMI evidenciou como quase todos nós pagamos este Imposto sem conhecer a grande maioria dos pormenores que condicionam o valor que pagamos.

Dos vários factores multiplicativos que influenciam o IMI, o coeficiente de localização é provavelmente um dos que mais condiciona o valor que pagamos neste imposto. Segundo o artigo 42º do Código do IMI, este coeficiente pode variar entre 0.4 e 3.5, uma diferença de quase 10 vezes!

O coeficiente de localização sofreu no início do ano alterações, as mais profundas desde a criação do IMI. No meu caso, nada se alterou.

Se tiverem curiosidade de verificar como é que esses coeficientes são atribuídos, a AT disponibiliza um site onde podem consultar essa informação. Fui à procura dos locais com melhor coeficiente de localização, pois os coeficientes mais baixos não parecem sequer existir na zona de Lisboa, o que não deixa de ser compreensível. Há vários locais com coeficiente 3.5, como é o exemplo abaixo, da Quinta Patino:

Coefiente de Localização Quinta Patino

Coefiente de Localização Quinta Patino

O site permite-nos ainda ver qual o coefiente majorativo no caso de moradias unifamiliares, um coeficiente majorativo que varia entre 0 e 0.20. Na região de Lisboa, não consegui encontrar nenhum local superior a 0.17, sendo que encontrei um valor de 0,2 na Quinta do Lago, no Algarve:

Coeficiente de

Coeficiente Majorativo de Moradia Unifamiliares é o máximo na Quinta do Lago

A recente alteração destes coeficientes pode alterar o IMI a pagar. Se verificar que esse coefiente diminuiu, então numa nova reavaliação, poderá ficar a pagar menos. Todavia, e conjugado com as recentes alterações, que permitem às Câmaras e Freguesias pedir novas reavaliações, a surpresa deverá estar reservada a quem mora numa zona em que este coeficiente subiu…

A finta do Governo no IMI

A polémica do IMI ainda está quente, e tudo o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Quando escrevi o artigo sobre Imposto sobre a Orientação Solar, procurei em vão algo que sustentasse a notícia, como faço sempre. Como não encontrei, e como não consegui ver a notícia toda no Jornal de Negócios, escrevi com aquilo que estava disponível na segunda-feira ao final da noite. Só para terem uma ideia, ontem quando escrevi este artigo, até a página do Código do IMI na própria AT estava por atualizar….

Acontece que afinal já havia no IMI orientação para cobrar a orientação solar. O que na verdade ocorreu foi que o Governo aumentou significativamente o coeficiente “Localização e operacionalidade relativas”. E fez mais uns truques sujos…

Comecemos pela alteração do coeficiente. Em primeiro lugar, vá ao site do Portal das Finanças e descarregue a sua Caderneta Predial, e siga as instruções do Pedro Andersson para ver se já está a pagar o Sol. Mas, se seguiu o nosso conselho e pediu uma reavaliação do seu imóvel, então deverá ter em seu poder um documento da AT em que é especificado o que é contabilizado em “Elemento(s) de Qualidade e Conforto”. Infelizmente, nos coefientes que tem um intervalo de variação, não lhe dizem quanto deram ao coeficiente, mas em muitos casos será possível inferir o seu valor, como foi o meu caso. No meu caso pessoal, está claro que o valor é Zero.

Acontece que na amostra que tenho até agora, e são já mais de dez, em nenhum deles o coeficiente “Localização e operacionalidade relativas” aparece. O que não deixa de ser estranho… Se o Governo muda esse coeficiente, é porque alguma coisa deve estar para acontecer?

O que na verdade aconteceu é que a receita do IMI baixou significativamente este ano! Portanto, é preciso fazê-la subir outra vez! Por mais que os nossos governantes tentem disfarçar

Na verdade, o coeficiente que dantes era de -5% até +5%, passou agora a ser de -10% a +20%. Como é bom de ver, quem é prejudicado na localização e tem por isso um coeficiente negativo, vai beneficiar pouco; quem tem um coeficiente positivo arrisca-se a uma subida, que literalmente poderá ser de até +20% (tenderá a ser todavia menor…). Tudo isto dependerá de como este coeficiente está a ser calculado, mas como referi, pela minha pequena amostra, muitos estarão com o valor zero, pelo que o risco de subida será significativo.

E que dizer em termos comparativos? Com uns telheiros, um terraço e uma boa orientação, uma casa normal pode começar a levar com um coeficiente de até 20%… O mesmo que morar num condomínio fechado? Mais de três vezes mais que ter uma piscina? E, pasme-se, mais de seis vezes mais que quem tem um campo de ténis???

Mas, o pior, o pior está reservado para o final. O Decreto-Lei nº 42/2016, no nº 3 do artigo 77º, refere o seguinte:

  • A iniciativa da impugnação a que se refere o n.º 1 cabe ao sujeito passivo, à câmara municipal ou à junta de freguesia, quando esta última seja beneficiária da receita.

Acontece que até ao mês passado, apenas o dono ou a AT podiam pedir a reavaliação de um “prédio” (ver definição de prédio). Para não serem afectados, a única coisa que tinham que fazer é estar quietos. Agora, as Câmaras Municipais e até, pasme-se, um Presidente de Junta interessado, podem requerer que a avaliação do seu “prédio” seja efectuada!!!

E é aqui que a porca torce o rabo. Qualquer Presidente de Câmara ou de Junta pode começar a pedir reavaliações dos seus rivais. Pode começar a aumentar a receita, pedindo reavaliações daqueles “prédios” que sabem, à partida, serão aumentados. E esquecerão convenientemente aqueles que possam ser beneficiados, a menos que seja para pagar uns favores? As variantes ao tema são quase infinitas, mas numa coisa não devo estar errado, sem sequer perceber muito do assunto: muitas destas situações violam uma série de regras que estão dispostas na Constituição…

Aqui no Poupar Melhor continuaremos atentos a formas como possamos poupar também nos Impostos, de um ponto de vista estritamente legal. O Estado está cada vez mais roliço, e por isso precisa de arrecadar cada vez mais impostos. Infelizmente, não dizem isso de forma clara, e é esta aldrabice e chico-espertice que tem que acabar!

Comparação de Impostos a nível internacional

Todos nos queixamos que pagamos impostos a mais! Nós Portugueses, mas também todos os outros… Porque é sempre difícil comparar o que nós pagamos, e o que pagam os outros.

A KPMG deu um contributo no esclarecimento desta questão, com uma página que compara impostos a nível internmacional. Podemos seleccionar entre os vários países do Mundo, ou mesmo regiões. Podemos comparar impostos indirectos, de empresas, de trabalho, e de segurança social, quer para o empregador quer para o empregado. E podemos ver dados entre 2010 e 2016.

Os dados que dali podem sair são fabulosos! Abaixo fiz um pequeno exercício para nos comparar a Espanha, França e Alemanha, nos Impostos de Trabalho e Indorectos:

Impostos de Trabalho

Impostos de Trabalho

Impostos Indirectos

Impostos Indirectos

Abastecer em Espanha

Este artigo aplica-se a todos aqueles que moram perto da fronteira com Espanha. O recente aumento brutal do preço dos combustíveis tornou ainda mais notória a diferença dos preços do gasóleo e gasolina, dos dois lados da fronteira.

Em Espanha, descobri dois sites que parecem mostrar informação detalhada dos preços. Um é oficial, associado ao Ministério da Indústria, Energia e Turismo. Outro é da responsabilidade do jornal El Pais, sendo que prefiro este último pela integração com o Google Maps. Por cá, já referenciamos o site Mais Gasolina, e o Preço dos Combustíveis Online.

No caso do gasóleo, como podem observar no primeiro quadro abaixo, as diferenças na GALP (que tem postos em ambos os lados de várias fronteiras) variam entre os 12.4 e 18.5 cêntimos por litro! Nas melhores ofertas de cada um dos lados, a variação é mais ampla, com uma variação entre 4.5 e 17.9 cêntimos por litro. A variação menor está associada à estação de serviço da GALP em Feces de Abaixo, do outro lado da fronteira de Chaves, que tem valores anormalmente elevados para Espanha. Tal não é de admirar, dado que não existe qualquer outra estação de serviço perto…

GALP PT
Gasóleo
GALP ES
Gasóleo
melhor PT
Gasóleo
melhor ES
Gasóleo
Valença/Tui  1.068 1.054 0.875
Chaves/Feces de Abaixo 1.063 0.939 0.994 0.939
Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro 0.909 0.989 0.909
Elvas/Badajoz 1.089 0.939 0.999 0.825
Vila Real Sto António/Ayamonte 1.089 0.904 0.949 0.904

No domínio da gasolina, as variações são ainda mais significativas. Na GALP, a gasolina em Espanha é mais barata entre 19.9 e 35.5 cêntimos por litro! Nos melhores valores de cada um dos lados, as variações são entre 15 e 29.4 cêntimos por litro.

GALP PT
Gasolina
GALP ES
Gasolina
melhor PT
Gasolina
melhor ES
Gasolina
Valença/Tui 1.313 1.309 1.065
Chaves/Feces de Abaixo 1.308 1.109 1.259 1.109
Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro 1.019 1.249 1.019
Elvas/Badajoz 1.329 1.079 1.249 0.955
Vila Real Sto António/Ayamonte 1.369 1.014 1.199 1.014

Em resumo, há várias conclusões óbvias que se retiram destes dados:

  1. Encher um depósito de 50 litros de gasóleo pode ficar mais barato até 8.95€ se for feito do lado Espanhol.
  2. Encher um depósito de 50 litros de gasolina pode ficar mais barato até 14.70€ se for feito do lado Espanhol.
  3. A diferença é evidentemente da carga fiscal, pois a GALP tem em três das fronteiras analisadas estações de serviço muito próximas.
  4. Em Vilar Formoso, a GALP parece mesmo ter abdicado de ter um posto de combustível em território português…
  5. A perda de receita fiscal deve passar a ser cada vez mais evidente nestes postos fronteiriços. E com eles se vão também muitos postos de trabalho, e com isto se aumenta a poluição, pela circulação acrescida de automóveis…