As nossas vidas pessoais e profissionais são muito marcadas por previsões que vão sendo feitas. Nos últimos tempos, todos estaremos particularmente sensíveis para este tema, e como facilmente as previsões saem erradas.
Este é um tema que me é muito sensível. Todos tendem a pensar que as evoluções futuras serão lineares, e se uma coisa está a subir, continuará certamente a subir, mesmo que tal não seja sequer possível. E tal verifica-se não só nos domínios da política, como da Economia, Ciência, e da Gestão…
Ao longo dos anos, fui observando as consequências de várias previsões. A política de autoestradas foi certamente uma das que mais se socorreu de previsões furadas. Uma das que mais me marcou foi a forma como foi efectuado o alargamento da autoestrada do norte, a A1. Tal foi particularmente evidente no troço a norte de Lisboa, até à A23. Quase todos os viadutos foram demolidos, o alargamento demorou uma eternidade, e para cúmulo pessoal, uma vez estive literalmente parado durante três horas, uma sexta-feira à noite, num dos troços em obras, que havia registado um acidente naquelas faixas reduzidas… E que originaram, entre muita confusão, nomeadamente várias mortes.
Naquela altura, em alguns períodos havia bastante tráfego. Andava-se um pouco mais devagar, o que até era positivo. Mas não se ligava ainda muito aos consumos, pois o custo dos combustíveis era muito inferior ao actual… E alguém pensou que o tráfego iria continuar a crescer a um ritmo louco, como evidencia a página 11 do Estudo do Impacte Ambiental do referido alargamento. Para ajudar à festa, o legislador determinou que quando o número mágico de TMDA=35000 fosse ultrapassado, que a autoestrada teria que ser alargada!
Pois bem: o tráfego, em vez de aumentar, começou a diminuir, conforme os dados oficiais do INIR. Na imagem abaixo vemos como as previsões não batem com a realidade! Na verdade, o tráfego nesse troço estabilizou desde 2002, e levou um rombo significativo com a recente crise. Na verdade, as previsões de há dez anos atrás já apontavam para que o preço dos combustíveis tinham que subir, mas alguém pensou que os Portugueses continuariam, perdão, acelerariam ainda mais o ritmo das suas deslocações…